São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995
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Coleção `The Originals' revive fetiche do vinil

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O disco negro de vinil ressuscita no ambiente digital. O primeiro pacote da coleção ``The Originals (Legendary Recordings from the Deutsche Grammophon Catalogue)", da gravadora alemã Deutsche Grammophon, que acaba de chegar ao Brasil via importação, junta em 25 volumes 29 CDs com gravações célebres dos anos 50 aos 70 fantasiados de LP.
Os disquinhos receberam tratamento gráfico que os fazem parecer com vinis em miniatura.
``O consumidor erudito sente falta do velho LP", diz o pianista inglês Alan Newcombe, 45, idealizador da coleção. Ele falou por telefone, de Hamburgo, sede da DG. ``O LP propiciou o desenvolvimento da fidelidade e veiculou performances irrepetíveis."
A simulação vai ao requinte de reproduzir o reflexo de luz típico dos 33 rpm. Mas a reprodução se quer infiel. O reflexo não muda de lugar, congelando a reminiscência. O invólucro convém a uma série de gravações remasterizadas.
A redigitalização segue a mesma trilha da réplica distante. Usa um novo método, chamado de "Original-Image Bit-Processing, desenvolvido pela DG para recriar a impressão do espectro de onda dos registros. ``Descobrimos que as gravações digitais tinham uma intensidade exagerada, capaz de ferir a sensibilidade musical mais apurada", diz Newcombe.
Pelo novo método, a sonoridade do CD se avizinha à do LP. As matrizes não recebem equalização superior à original. ``A gravação não tem o impacto do CD, mas ganha em clima", diz.
O encanto da série está no fetiche de uma atmosfera irrecuperável quase recobrada. A DG projeta lançar 100 títulos até 1998, ano do centenário da gravadora.
O primeiro pacote foi editado na Europa no início do ano. O segundo será lançado na próxima semana, com dez títulos. ``Reunimos em um CD dois ou mais LPs da era analógica", diz Newcombe.
Entre os CDs lançados, destacam-se os que reencenam abordagens hoje consideradas obsoletas.
As leituras históricas aposentaram as regências românticas e os ensaios de fidelidade clássica. O pé da letra substituiu a expressão.
Como uma epidemia, a interpretação histórica iniciou pela música barroca. Alastra-se à modernidade. Hoje, mesmo o tcheco Dvorák (1841-1904) ou o húngaro Bartók (1881-1945) ganham abordagens com instrumentos de época, musicologicamente fundamentadas.
A coleção exibe interpretações carregadas de romantismo e ímpetos nacionalistas.
``O estilo dos artistas variava de com a nação de origem", diz Newcombe. ``Uma orquestra como a de Leningrado possuía um estilo de tocar totalmente russo, com apoio nos metais, enquanto as orquestras alemãs caprichavam nas cordas e praticavam a então chamada fidelidade à partitura."
O fato se explicita no CD que reúne dois LPs do maestro tcheco Rafael Kubelik e Filarmônica de Berlim com obras de Dvorák. Kubelik, 81, hoje afastado, gravou em 1966 e 1973 as sinfonias 8 e 9 do compatriota. Valeu-se de uma leitura folclórica e cheia de nuanças emocionais.
Tal clima não tem bis. Persiste ligado a um tempo e a uma sonoridade agora conservados em CD.

Coleção: The Originals
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 25 (o CD, em média)

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