São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995 |
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Coleção `The Originals' revive fetiche do vinil
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Os disquinhos receberam tratamento gráfico que os fazem parecer com vinis em miniatura. ``O consumidor erudito sente falta do velho LP", diz o pianista inglês Alan Newcombe, 45, idealizador da coleção. Ele falou por telefone, de Hamburgo, sede da DG. ``O LP propiciou o desenvolvimento da fidelidade e veiculou performances irrepetíveis." A simulação vai ao requinte de reproduzir o reflexo de luz típico dos 33 rpm. Mas a reprodução se quer infiel. O reflexo não muda de lugar, congelando a reminiscência. O invólucro convém a uma série de gravações remasterizadas. A redigitalização segue a mesma trilha da réplica distante. Usa um novo método, chamado de "Original-Image Bit-Processing, desenvolvido pela DG para recriar a impressão do espectro de onda dos registros. ``Descobrimos que as gravações digitais tinham uma intensidade exagerada, capaz de ferir a sensibilidade musical mais apurada", diz Newcombe. Pelo novo método, a sonoridade do CD se avizinha à do LP. As matrizes não recebem equalização superior à original. ``A gravação não tem o impacto do CD, mas ganha em clima", diz. O encanto da série está no fetiche de uma atmosfera irrecuperável quase recobrada. A DG projeta lançar 100 títulos até 1998, ano do centenário da gravadora. O primeiro pacote foi editado na Europa no início do ano. O segundo será lançado na próxima semana, com dez títulos. ``Reunimos em um CD dois ou mais LPs da era analógica", diz Newcombe. Entre os CDs lançados, destacam-se os que reencenam abordagens hoje consideradas obsoletas. As leituras históricas aposentaram as regências românticas e os ensaios de fidelidade clássica. O pé da letra substituiu a expressão. Como uma epidemia, a interpretação histórica iniciou pela música barroca. Alastra-se à modernidade. Hoje, mesmo o tcheco Dvorák (1841-1904) ou o húngaro Bartók (1881-1945) ganham abordagens com instrumentos de época, musicologicamente fundamentadas. A coleção exibe interpretações carregadas de romantismo e ímpetos nacionalistas. ``O estilo dos artistas variava de com a nação de origem", diz Newcombe. ``Uma orquestra como a de Leningrado possuía um estilo de tocar totalmente russo, com apoio nos metais, enquanto as orquestras alemãs caprichavam nas cordas e praticavam a então chamada fidelidade à partitura." O fato se explicita no CD que reúne dois LPs do maestro tcheco Rafael Kubelik e Filarmônica de Berlim com obras de Dvorák. Kubelik, 81, hoje afastado, gravou em 1966 e 1973 as sinfonias 8 e 9 do compatriota. Valeu-se de uma leitura folclórica e cheia de nuanças emocionais. Tal clima não tem bis. Persiste ligado a um tempo e a uma sonoridade agora conservados em CD. Coleção: The Originals Lançamento: PolyGram Quanto: R$ 25 (o CD, em média) Texto Anterior: `Papai, chega de ursinhos, fale de Sartre' Próximo Texto: CONHEÇA OS DESTAQUES DA COLEÇÃO Índice |
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