São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 1995
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``Hollywood" troca representante no Brasil

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o mês passado Steve Solot, 43, é o vice-presidente sênior para a América Latina da Motion Picture Association -associação que aglutina as principais empresas da indústria cinematográfica norte-americana.
Ao contrário de seu antecessor, Harry Stone, que nunca desprezava um holofote, Solot, o novo representante da indústria do sonho no Brasil, faz um estilo mais discreto, prefere os bastidores.
O escritório de Solot é bem diferente do de Stone, onde as paredes são adornadas com retratos do dono da sala acompanhado por astros de Hollywood e presidentes de vários países.
Solot prefere pastas com relatórios sobre os mercados dos países latinos. Atualmente está estudando a legislação de oito países.
As semelhanças entre Solot e Stone parecem se resumir às coincidências. Ambos são casados com brasileiras. Solot é reincidente. Sua ex-mulher é uma brasileira que ele conheceu em Israel. A atual é uma carioca chamada Denise. Com as duas teve três filhos.
Solot ganhou o cargo depois de mais de uma década de serviços prestados à MPA.
Sua escolha tem uma explicação simples. A troca de um diplomata por um economista com experiência em bancos e conhecimento jurídico atende às mudanças conjunturais. Em um continente onde a democracia está instalada e a MPA fincou raízes, a diplomacia não é prioritária.
``A indústria cinematográfica, hoje, é feita com base em informações técnicas. A necessidade das empresas que represento é receber relatórios detalhados, de estudos de mercado e análises geográficas", diz Solot à Folha, em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo.
Nascido em Tucson, Arizona, filho de uma professora e de um corretor imobiliário, Solot começou a se interessar por América Latina ainda jovem, quando costumava passar férias no México.
Na Universidade de Boston, se formou em literatura e economia latino-americanas. E lecionou espanhol em uma faculdade em São Francisco.
Chegou ao Brasil há 14 anos, como economista de um órgão ligado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ficou seis meses no emprego e foi trabalhar no escritório carioca do Banco de Boston, onde ficou por dois anos.
Até que foi ``sequestrado" por Harry Stone. Começou fazendo análise da legislação de vários países para a MPA.
Solot nunca tinha pensado em entrar para o mundo do cinema. Gosta de Hitchcock, de filmes de drama e suspense. Admira Tommy Lee Jones e Jessica Lange, mas jamais quis ser ator ou diretor.
Fora de Hollywood, Solot aprecia o que ele define como ``cinema de compromisso" -filmes engajados politicamente.
Essa opção pode ser explicada pelas escolhas políticas. Nos EUA, é filiado ao Partido Democrata, e quando estava na Universidade participou de manifestações contra a Guerra do Vietnã.
Na América Latina, admira os cinemas brasileiro, argentino e mexicano. O brasileiro, para ele, já foi o melhor do continente. Hoje perde para o México.
Sua relação com essas produções, segundo ele, não é de mero espectador.
``Gostaria de repetir o sucesso de Harry. Mas quero tornar a MPA uma entidade mais receptiva aos interesses locais", afirma Solot.
Ou seja, promete ajudar a produção cinematográfica nacional.
Ele diz que facilita contatos de produtores latinos com a matriz, em Hollywood, e traz roteiristas norte-americanos para ensinar o ofício aqui.
``Há problemas com roteiros na América Latina, não só no Brasil. E cinema começa com um bom roteiro", explica.
Outro problema, segundo ele, é a distribuição dos filmes.
E sugere que um produtor, para se qualificar para o financiamento de um filme, tenha um pré-acordo de distribuição com alguma empresa.
``O grande problema do filme brasileiro é fazer e depois não distribuir. Quando a Embrafilme acabou tinha muito filme já feito na prateleira sem distribuição. É preciso ligar a produção à distribuição", avalia.

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