São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 1995 |
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``Hollywood" troca representante no Brasil
LUIZ ANTÔNIO RYFF
Ao contrário de seu antecessor, Harry Stone, que nunca desprezava um holofote, Solot, o novo representante da indústria do sonho no Brasil, faz um estilo mais discreto, prefere os bastidores. O escritório de Solot é bem diferente do de Stone, onde as paredes são adornadas com retratos do dono da sala acompanhado por astros de Hollywood e presidentes de vários países. Solot prefere pastas com relatórios sobre os mercados dos países latinos. Atualmente está estudando a legislação de oito países. As semelhanças entre Solot e Stone parecem se resumir às coincidências. Ambos são casados com brasileiras. Solot é reincidente. Sua ex-mulher é uma brasileira que ele conheceu em Israel. A atual é uma carioca chamada Denise. Com as duas teve três filhos. Solot ganhou o cargo depois de mais de uma década de serviços prestados à MPA. Sua escolha tem uma explicação simples. A troca de um diplomata por um economista com experiência em bancos e conhecimento jurídico atende às mudanças conjunturais. Em um continente onde a democracia está instalada e a MPA fincou raízes, a diplomacia não é prioritária. ``A indústria cinematográfica, hoje, é feita com base em informações técnicas. A necessidade das empresas que represento é receber relatórios detalhados, de estudos de mercado e análises geográficas", diz Solot à Folha, em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo. Nascido em Tucson, Arizona, filho de uma professora e de um corretor imobiliário, Solot começou a se interessar por América Latina ainda jovem, quando costumava passar férias no México. Na Universidade de Boston, se formou em literatura e economia latino-americanas. E lecionou espanhol em uma faculdade em São Francisco. Chegou ao Brasil há 14 anos, como economista de um órgão ligado ao Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ficou seis meses no emprego e foi trabalhar no escritório carioca do Banco de Boston, onde ficou por dois anos. Até que foi ``sequestrado" por Harry Stone. Começou fazendo análise da legislação de vários países para a MPA. Solot nunca tinha pensado em entrar para o mundo do cinema. Gosta de Hitchcock, de filmes de drama e suspense. Admira Tommy Lee Jones e Jessica Lange, mas jamais quis ser ator ou diretor. Fora de Hollywood, Solot aprecia o que ele define como ``cinema de compromisso" -filmes engajados politicamente. Essa opção pode ser explicada pelas escolhas políticas. Nos EUA, é filiado ao Partido Democrata, e quando estava na Universidade participou de manifestações contra a Guerra do Vietnã. Na América Latina, admira os cinemas brasileiro, argentino e mexicano. O brasileiro, para ele, já foi o melhor do continente. Hoje perde para o México. Sua relação com essas produções, segundo ele, não é de mero espectador. ``Gostaria de repetir o sucesso de Harry. Mas quero tornar a MPA uma entidade mais receptiva aos interesses locais", afirma Solot. Ou seja, promete ajudar a produção cinematográfica nacional. Ele diz que facilita contatos de produtores latinos com a matriz, em Hollywood, e traz roteiristas norte-americanos para ensinar o ofício aqui. ``Há problemas com roteiros na América Latina, não só no Brasil. E cinema começa com um bom roteiro", explica. Outro problema, segundo ele, é a distribuição dos filmes. E sugere que um produtor, para se qualificar para o financiamento de um filme, tenha um pré-acordo de distribuição com alguma empresa. ``O grande problema do filme brasileiro é fazer e depois não distribuir. Quando a Embrafilme acabou tinha muito filme já feito na prateleira sem distribuição. É preciso ligar a produção à distribuição", avalia. Texto Anterior: Noiva de Hugh Grant fala novas verdades Próximo Texto: Governo dos EUA interfere nos negócios Índice |
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