São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 1995
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Este Congresso não é igual àquele que passou

RÉGIS DE OLIVEIRA

Sempre que me referia ao Congresso Nacional fazia-o sorrindo, zombeteiro. Em conversas, criticava a mordomia, o trabalho nos três dias na semana, a falta de produtividade, a incompetência, os conchavos etc. Vi a Casa pesada e inútil, chegando a ouvir afirmativas de que, uma vez fechada, sua inexistência não seria sentida pelo povo brasileiro.
Creio que não era só minha impressão, mas era a opinião de todo o povo brasileiro. Político era, no dicionário popular, sinônimo de corrupção, de desmandos. A imprensa atacava reiteradamente o Congresso, mostrando plenário vazio, os ``anões do Orçamento", a prática corruptiva, a vida faustosa, folgada, viagens, enfim um grupo de nababos que usufruía o poder.
Por aposentadoria na magistratura, por vontade de mudar o mundo e por força da confiança de mais de 40 mil pessoas, vejo-me deputado federal. Minha canhestra visão -até então justificada, talvez, pelo Congresso anterior- deixa de ser parcial, passando a ter visão integral do problema.
A expectativa do que iria encontrar era preocupante. Os primeiros contatos, sempre arredios, eram apreensivos, pois poderia estar em contato com pessoas de má índole, e minha vida anterior de magistrado não poderia ser conspurcada em convívio deteriorante.
Passei a ver uma Comissão de Constituição e Justiça trabalhando seriamente, com pacotes de difíceis problemas, e pessoas discutindo-os com profundidade e com preparo. Vi inúmeras comissões trazendo gente importante e preparada para prestar depoimento sobre a situação do país.
Passei a ver outras discutindo a economia brasileira com eficiência; desconstitucionalização, flexibilização de monopólios, navegação de cabotagem, gás canalizado, conceito de empresa nacional, previdência social, tratados internacionais, aumento do salário mínimo e reajuste do custeio da previdência. Observei discussões sobre soberania, matéria tributária, saúde, minorias...
O aumento incontido da presença nas comissões, gabinetes e plenários. A procura dos ``lobbies", de pessoas envolvidas em concorrência e disputa, os diálogos de convencimento. A dinâmica da dialética, na tentativa de persuasão dos argumentos. A prática da busca da conquista, da adesão, das articulações, das discussões de bancada, tudo envolvido em clima fortemente emotivo.
A presença efetiva dos parlamentares nas discussões e votações de plenário, das comissões, e o jogo de inteligência na interpretação regimental. A obstrução, o voto simbólico, as tramas das lideranças, a presidência diária e firme.
Este Congresso, passei a pensar, é diferente do outro. O povo parece que, sem embargo de ter realizado repulsa e manifestação de desagrado com voto em branco e nulo, acertou na convicção da maioria. Elegeu gente decente. Pode haver exceções, e seguramente há quem apenas buscou o mandato para se beneficiar ou beneficiar terceiros. Mas, meu Deus, como mudou o Congresso.
A imprensa, sempre ávida em dar notícias, manchetes que despertem atenção, parece que vai, aos poucos, reconhecendo a mudança. Paulatinamente, vai compreendendo, sem querer crer, que houve mudança. Para melhor. Vai entendendo que terá que mudar a opinião. A população vai sendo colhida por surpresa agradável de ver que a democracia parece estar se solidificando.
O respeito recíproco entre os Poderes, o presidente culto e de visão do futuro, o Judiciário buscando caminhos para a modernização, e o Legislativo amoldando-se à decência, ao trabalho e à busca dos meios e instrumentos para atingir o país que queremos.
A grande caixa de ressonância de todas as angústias, desespero e esperança dos brasileiros mudou. Espero poder dar, modestamente, minha contribuição para que as reformas do país sejam feitas. A recusa de apoio às alterações, sem apresentação de alternativas, parece ser ultrapassada. Discurso superado e desatualizado. Os 100 milhões de brasileiros pobres e indigentes aguardam que reformas sejam feitas, já que têm fome.
Somente com competência e visão ampla, atendendo aos direitos consolidados com generosidade da aferição econômica e com visão social democrática dos problemas, é que lograremos fazer deste o país dos nossos sonhos.

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