São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
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Corrupção e exemplo

FRANCISCO WHITAKER

É no mínimo curiosa a sede de ocupar a cadeira de prefeito de São Paulo, que a multiplicação de pretendentes à sucessão já deixa perceber.
Teriam tais candidatos consciência da "bomba" que lhes será entregue pelo atual prefeito? Excluída a hipótese do sacrifício pelo interesse público, ou são autênticos masoquistas ou a vaidade os faz se considerarem extremamente poderosos.
Na gestão da terra devastada, um dos problemas mais complicados é a corrupção, que, com suas fundas raízes culturais, reconquistou seus espaços muito mais rápida e amplamente do que se esperava, depois do esforço moralizador de Erundina.
A prática mais típica é a da extorsão, sempre que o cidadão depende do poder público municipal.
Como vereador, tenho sido frequentemente procurado por pessoas assustadas com os assaltos de que são vítimas, nas quais se utilizam, como revólver, multas devidas ou indevidas.
Para se livrar do assaltante, é preciso pagar a ele uma porcentagem das mesmas. De uma vez ou mensalmente...
Pensam que posso fazer desaparecer a ameaça. Proponho sempre que, para isso, informemos a polícia, para um eventual flagrante.
Nunca consigo convencer o interessado. É maior o medo da retaliação, da vida tornada impossível pelos "colegas" do achacador.
Os flagrantes se tornaram mais difíceis porque os meliantes já não aceitam receber suas propinas em locais que eles mesmos não controlem.
É preciso levar o dinheiro à sua repartição, à sua sala. Se o achacado tem dificuldades, abre-se a possibilidade de quantias preliminares, destinadas a amaciar as exigências do "chefe"...
É certo que a impunidade decorre do pouco interesse dos responsáveis em coibir tais práticas. Mas é ainda mais certo que o exemplo vem sempre de cima.
Contam-se coisas terríveis de níveis mais altos do governo, nas relações deste com empresas fornecedoras ou encarregadas de serviços e obras, assim como nas relações do Executivo com os vereadores, para aprovar projetos de interesse do prefeito.
É tudo difícil de provar, correndo-se o risco de processos por difamação. Que o próximo prefeito, se não conseguir pagar as dívidas que herdará, pelo menos reinverta a triste e degenerescente tendência que tomou amplamente conta dos modos e costumes de nossa administração municipal.

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