São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
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Nova cota para automóveis encerra crise com Argentina

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Argentina continuará submetida ao regime de cotas de importação para o setor automobilístico. Mas, na prática, a limitação imposta pelo Brasil há um mês não terá efeito.
Isto porque a cota para o restante do ano será suficiente para absorver, com folga, as exportações argentinas para o Brasil.
Após um mês e meio de negociações, os governos dos dois países descobriram que a Argentina não será afetada pelo regime de cotas, informação antecipada no último dia 6 pela Folha.
O chancelar argentino, Guido di Tella, em entrevista à Folha, avalia que a crise entre os dois países em torno do regime de cotas não passou de uma confusão.
A ineficácia da cota para a Argentina foi assumida ontem indiretamente pela ministra Dorothea Werneck (Indústria, Comércio e Turismo), ao anunciar que poderão entrar mais 150 mil carros este ano no país.
``Com as perspectivas de exportações da Argentina para o Brasil, e dado este número que nós temos estabelecido pela MP (150 mil carros), não haverá nenhuma dificuldade para manter o comércio Argentina-Brasil", disse Dorothea.
A confusão se deu porque o governo brasileiro previa que, pelos limites definidos na MP (medida provisória) das cotas, poderiam entrar no país mais 100 mil carros neste ano.
No anúnciou da MP, há cerca de um mês, Dorothea disse que a limite para o restante do ano seria de ``cerca de 100 mil carros".
Ao consolidar os números das importações de 1º de janeiro a 12 de junho deste ano, o governo descobriu que a cota seria, na verdade, de 150 mil carros -ou seja, 50% dos 300 mil automóveis que entraram no país naquele período.
A partir da confirmação de que a cota para o restante do ano ficaria além do previsto inicialmente, e considerando que o mercado nacional está saturado de carros importados, o governo soube que a MP não iria afetar a Argentina.
``Nós temos espaço para absorver as exportações argentinas", disse a ministra ao anunciar o fim das negociações com a Argentina.
A Argentina exportou, no primeiro semestre, cerca de 26 mil carros para o Brasil e planeja vender mais 44 mil até dezembro. A Folha apurou que o governo avaliou que, com a cota total de 150 mil, seria possível absorver a produção deste país.
Mesmo assim, técnicos do governo não acreditam que o mercado nacional tenha demanda para tantos carros argentinos, já que os estoques das empresas continuam altos e o consumo reprimido.
Mas Dorothea não admitiu que o erro na previsão é que deixou, na prática, a Argentina fora do regime de cotas.
O comunicado comum dos dois países, entretanto, deixa claro que a MP das cotas não foi revista.
``Os dois governos declaram que o comércio no setor automotivo no âmbito do Mercosul continuará a se orientar pelos critérios vigentes na União Aduaneira, os quais o governo brasileiro considera que não perturbam o equilíbrio da MP que regula o setor no Brasil", diz o documento.
Mesmo tendo participado do encontro com Dorothea e o chanceler argentino, os ministros José Serra (Planejamento) e Pedro Malan (Fazenda) evitaram a imprensa e saíram antes da entrevista.

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