São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 1995
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Rivalidade entre bois garante o espetáculo

Festival atraiu cerca de 50 mil turistas a Parintins

LUCIANA VEIT
DA ENVIADA ESPECIAL A PARINTINS (AM)

Cerca de 50 mil pessoas acompanharam a trigésima edição do Festival Folclórico de Parintins. O município, que não se difere em nada de uma pacata cidade do interior, viveu uma festa sem limites durante os três dias do festival.
A data é fixa, de 28 a 30 de junho. Não importa que dia da semana cair, o boi-bumbá é sagrado.
As brincadeiras de boi começaram nos anos 30, como cordão de rua, acompanhando as pastorinhas.
A disputa era entre vários bois. Hoje, com apenas dois, a competição chegou ao máximo e divide a cidade em cores.
Azul e branco são as cores do Caprichoso, que tem o boi preto, e foi bicampeão neste ano. Já o Garantido é vermelho e branco e seu boi, branco com um coração vermelho entre os chifres.
O festival acontece à noite no bumbódromo, que tem capacidade para 35 mil pessoas e formato de um boi estilizado.
Cada boi se apresenta separadamente por duas horas e meia nos dois primeiros dias e por três no último. As apresentações seguem uma história, evoluindo a cada noite. Para isso o narrador é ajudado pelo repentista.
A base da apresentação é a lenda de uma negra escrava (mãe Catirina) que está grávida e com desejo de comer língua do melhor boi de seu patrão.
Seu marido (pai Francisco) mata o boi. O patrão manda prendê-lo com ajuda dos índios. Por fim, ele é salvo pelo padre e o pajé ressuscita o boi.
Mas a lenda de mãe Catirina é apenas o começo. As apresentações incorporaram a temática indígena e o discurso ecológico, sempre com grandiosidade.
Surgem lagartas de fogo gigantescas descendo pelas arquibancadas ou um carro alegórico que representa um aquário onde as iaras aparecem e somem, nadando para atrair homens.
Nos momentos de clímax, as luzes do estádio são apagadas. Música e as torcidas aumentam a festa. Sintetizadores, carimbó (dança de roda do Pará, acompanhada de palmas), repente nordestino, cateretê (dança de roda de origem tupi, mas influenciada pelos africanos) tambores e até a flauta indiana produzem um ritmo original.
A torcida é mais do que coadjuvante. Parece a de uma final de campeonato importantíssima. Com a diferença que, quando um boi está se apresentando, a torcida do outro deve se comportar.
Vaias tiram pontos. E eles levam a sério. Daí a empolgação para cantar, vibrar e dançar em dobro quando é a vez do seu boi.
As torcidas também participam nos momentos em que as luzes são apagadas, segurando velas. As arquibancadas ficam iluminadas por inúmeros pontinhos de luz. Não é exagero enxergar naquela multidão um morro iluminado.
Entre outros itens, os grupos são julgados pela toada, figuras típicas da região, figura mais engraçada, rainha do folclore, mãe Catirina, pai Francisco, lendas, evolução do boi e galera. (LV)

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