São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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Comércio vai ao presidente pedir solução

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

As associações comerciais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais marcaram audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso para dizer-lhe que ou sai uma solução para a crise agrícola ou todo o país corre o risco de quebrar.
A decisão das lideranças do comércio reflete o efeito dominó da crise: com a queda na renda agrícola (calculada em R$ 5,6 bilhões de 94 para 95), toda a atividade comercial nas áreas agrícolas está sendo afetada.
O caso da região de Ribeirão Preto (SP) é talvez o mais ilustrativo: documento que acaba de chegar à Associação Comercial de São Paulo, elaborado pela distrital local, prevê uma queda de 3% na riqueza regional este ano.
Consequência: o atraso nos pagamentos devidos aumentou 210% nos cinco primeiros meses de 95, na comparação com idêntico período de 1994, só em Ribeirão.
Marcel Solimeo, diretor do Departamento de Economia da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), lembra que a região de Ribeirão Preto tem grande diversidade na agricultura.
Quando a cana-de-açúcar vai mal, a laranja compensa, por exemplo. Agora, os números disponíveis ``indicam uma crise generalizada da agricultura", com os inevitáveis reflexos no comércio e na indústria.
Roberto Rodrigues, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), concorda e vai além:
``Tenho 31 anos de vida na agricultura, já vi crises de todo o tipo (regionais, setoriais etc) mas, com a extensão e profundidade da atual, só o que li sobre a crise de 1929".
Refere-se à quebra da Bolsa de Nova York, que repercutiu no mundo todo e gerou a chamada Grande Depressão.
Detalhe: Roberto Rodrigues é um dos mais frequentes interlocutores do presidente da República para a área agrícola.
Só nos últimos 15 dias, conversaram duas vezes pessoalmente, fora contatos telefônicos.
O presidente da SRB aponta um efeito colateral da crise agrícola: a perspectiva de uma concentração de renda que considera inédita na agricultura.
``Os ricos vão comprar mais barato e os outros vão perder o pouco que têm", diz Rodrigues. ``O Brasil agrícola está à venda."
O efeito dessa crise sobre o comércio nas regiões agrícolas era inevitável e se reflete ``em desemprego, inadimplência e queda nas vendas mais acentuados do que se sente em São Paulo (capital)", diz Solimeo, da ACSP.
Dessa constatação nasceu a idéia da audiência com FHC para lhe entregar um documento pedindo providências de caráter geral mas com ênfase especial para a agricultura.
O documento será discutido e finalizado na quinta-feira, durante a solenidade de posse de Humberto Motta na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

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sobre agricultura na página 1-10

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