São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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Os dois sexos da Fiel

ALBERTO HELENA JR.

Aqui em Rivera, só se fala na seleção, se Leonardo fica no time ou se Zinho volta, que André Cruz já é titular e coisas assim. Mas aí o que empolga mesmo é a decisão desta tarde, entre Corinthians e Lusa. O Corinthians tem um grupo mais seleto de jogadores; a Portuguesa está embalada. É, pois, o típico jogo em que a Fiel muda de sexo: vira o fiel da balança.

Na quinta-feira, dei um pulinho aí em São Paulo e acabei assistindo pela TV a vitória do Brasil sobre a Colômbia, na ilustre companhia do trio Carlos Alberto Parreira, Moraci Sant'Anna e Wanderley Luxemburgo. Parreira, que só agora, na celebração do primeiro ano da conquista, começa a celebrar o tetra levantado nos EUA sob seu comando, espiou sem remorsos nem ambições a sua seleção sendo metamorfoseada por Zagallo.
Para Parreira, o Brasil segue no rumo certo, com seus Juninhos e Sávios e Robertos Carlos, mas não abre mão de um centroavante goleador, tipo Túlio, ou Ronaldo, ou Viola, não importa o nome, importa o estilo. Por isso mesmo, foi com um sorriso largo que ele aprovou a entrada de Túlio, sobretudo no lugar de Edmundo.
Assim como não mediu elogios ao nosso meio-campo, firme na marcação, onde desponta, claro, Dunga, que, ao vir cortar duas bolas aqui na esquerda de sua defesa, despertou o maior entusiasmo no técnico que agora dirige o Fenerbach, da Turquia.
Já Luxemburgo, que acabara de deixar o Flamengo (ou por ele ser deixado), com os olhos congestionados, não sei se de choro ou de tanto tentar em vão enxergar o sonho desfeito de voltar ao ninho antigo, não parecia focar bem as imagens vindas diretamente de Rivera. Olhava para dentro de si, como a procurar onde havia se enganado, e lá, por certo, só distinguia a figura zombeteira de Romário, o almirante Nelson da batalha da Gávea.
A queda de Luxemburgo era mais do que esperada há algum tempo. Primeiro, porque, neste momento da vida administrativa do Flamengo, o técnico haverá de ser mero ornamento; ou alguém com singular capacidade de conciliação, e que aceite ficar à sombra do brilho das estrelas mais fulgentes: Romário e Edmundo, que ainda nem assumiu, mas já se compôs com seu velho parceiro. Ambos, aliás, tentaram aliciar Sávio, a terceira e mais nova estrela do elenco (certamente a de brilho menos fugaz), a integrar o time dos ``bad-boys". Sávio, embora jovem, sabiamente disse não. No que vai dar isso, só Deus sabe. Ou o urubu, quem sabe.

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