São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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França quer reação militar em 48 horas

VINÍCIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A França estipulou um prazo de 48 horas para que os países ocidentais respondam aos seus apelos por uma reação militar às agressões sérvias às áreas protegidas da ONU na Bósnia.
As possíveis consequências do ultimato, anunciado ontem pelo ministro da Defesa, Charles Millon, ainda são obscuras.
Millon disse, em entrevista pelo rádio, que se a França não obtiver resposta vai "ter de tirar disto todas as consequências".
Esta frase repete a de um comunicado do governo francês da noite de quinta-feira. A assessoria de imprensa da Presidência não esclarece o sentido da ameaça velada, mas dá a entender que, se ignorado, o ultimato não resultará em ação unilateral das tropas francesas na Bósnia.
A imprensa francesa interpretou o "tirar as consequências" como ameaça de retirada dos capacetes azuis franceses da Bósnia.
Millon disse que a França não se retiraria unilateralmente e pediu uma reorganização imediata das tropas da ONU na Bósnia para fazer face à ação militar sérvia.
O presidente Jacques Chirac disse ontem que a França não tem autorização para agir sozinha: "Lamento que ninguém ouça os apelos da França".
"Fazemos apelos às grandes democracias do mundo para que se tome uma atitude contra o que ocorre na Bósnia, uma barbárie de outro século. De outro modo, podemos estar nos transformando em uma espécie de cúmplices da purificação étnica", afirmou.
Segundo o presidente francês, os bósnios foram privados dos direitos humanos mais elementares.
"Nós, as grandes democracias ocidentais, damos lições de democracia, mas ficamos estranhamente silenciosos quando se trata de ameaças às democracias em outros lugares", disse Chirac.
Chirac teve uma conversa telefônica de 40 minutos com o primeiro-ministro britânico, John Major, na tarde de ontem.
O governo francês se limitou a dizer que Chirac quer ajudar a cidade de Gorazde, também ameaçada pelos sérvios. Major teria dito que a situação precisa ser melhor analisada hoje.
A França participa desde o início das forças de paz da ONU na ex-Iugoslávia, em atividade desde fevereiro de 1992 e atualmente composta de cerca de 34 mil homens (9.355 dos quais na Bósnia).
Os franceses são 3.085 e protegem Sarajevo, ao lado de cerca de 2.000 soldados egípcios e ingleses.

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