São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Carta é revista antes de ser regulamentada

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Congresso está aprovando as emendas propostas por Fernando Henrique Cardoso antes de regulamentar uma série de dispositivos da Constituição de 1988.
A falta de lei complementar impediu que muitas das inovações aprovadas há quase sete anos fossem aplicadas.
Um dos casos mais emblemáticos é do tabelamento dos juros reais em 12% ao ano -omissão que muitos vêem com bons olhos.
``Nesse caso, a falta de regulamentação foi sábia", opina o professor de direito constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Celso Bastos.
O Imposto sobre Grandes Fortunas e a participação dos trabalhadores nos lucros e gestão das empresas também nunca chegaram a ser regulamentados.
Em outras situações, a omissão dos parlamentares provocou dúvidas sobre a aplicação de dispositivos que eram tratados em leis anteriores à Constituição.
O caso da reforma agrária é o mais grave, na opinião do professor de teoria geral do Estado da USP (Universidade de São Paulo) Dalmo Dallari.
A Constituição estabelece uma série de regras para a reforma agrária que deveriam ser detalhadas em uma lei complementar. As regras nunca foram aprovadas.
Na falta de regulamentação, o governo lança mão do Estatuto da Terra, de 1964, mas nem sempre é bem-sucedido.
Recentemente, o STF (Supremo Tribunal Federal) deu liminar suspendendo uma desapropriação para fins de reforma agrária. A principal justificativa foi a inexistência de lei sobre o assunto aprovada depois da Constituição de 1988.
Também por falta de regulamentação, o STF decidiu que a escuta telefônica era inconstitucional, mesmo com autorização judicial. A regulamentação só foi aprovada no início deste ano.
Prevendo a sua própria inoperância, os parlamentares incluíram na Constituição o mandado de injunção, instrumento que serviria para suprir as falhas da ausência de regulamentação.
O Congresso não aprovou lei sobre o assunto e a medida nunca foi concedida pela Justiça.
STF decidiu que o máximo que pode fazer é enviar ao Congresso comunicado sobre a falta da lei.

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