São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995 |
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Cartola 'collorido' é campeão de faltas
CYNARA MENEZES
Ao contrário do informado à pág. 1-15 de 16/7, o deputado Zé Gomes da Rocha (PSD-GO), campeão de faltas no primeiro semestre legislativo, não recebeu salários em abril e maio, quando esteve de licença. Por erro da diretoria-geral da Casa, também foi informado incorretamente que não houve corte em sua cota de selos e telefone. Cartola 'collorido' é campeão de faltas O deputado federal Zé Gomes da Rocha (PSD-GO), 37, preside um clube de futebol que nunca sonhou chegar à final do Campeonato Brasileiro, mas é, ele próprio, um campeão: com 36 ausências, ocupa o primeiro lugar absoluto em faltas no Congresso. O cartola do Itumbiara Esporte Clube confessa falta de tempo para a atividade parlamentar. ``Na segunda eu despacho em Goiânia, na quarta acompanho o clube, na sexta despacho em Itumbiara." Seu ídolo é o ex-presidente Fernando Collor, de quem foi coordenador político em Goiás na campanha de 1989. Hoje suspira pelos tempos das verbas fáceis e do gabinete cheio de presentes. Para explicar as faltas, ele cometeu algumas inverdades. Disse ter se ausentado 60 dias por ordem médica. Seu médico, Roberto Helou, disse à Folha que a licença foi de no máximo 20 dias. Disse não ter recebido salário, mas só lhe foi cortada a parte relativa à presença. O fixo, em torno de R$ 2.500, foi pago. Selos e telefones não foram cortados. Afirmou ter ido às votações mais importantes. Mas só votou na quebra do monopólio do petróleo. Faltou à votação do gás canalizado e só votou no segundo turno das telecomunicações. Folha - Como o sr. vê o fato de ser o parlamentar mais faltoso? Zé Gomes - Vejo com naturalidade, já que tive pneumonia e tive que me licenciar por 60 dias. Folha - Por que então não justificou sua ausência? Zé Gomes - Porque teria direito a salário, cotas de selo, telefone, e eu não gostaria de receber. Nesses dois meses não recebi nada. Folha - Mesmo doente, não quis receber? Zé Gomes - Lógico, porque você acaba visitando alguém, vai a logradouro público, e talvez alguns não entendessem. Folha - O sr. não teme decepcionar seus eleitores? Zé Gomes - A gente falta, todos faltam. Mas o eleitor do Zé Gomes não se decepciona, não, porque duas vezes por semana a gente coloca 15 mil pessoas dentro de um campo de futebol. Sou deputado de porta de ministério. É com um prefeito aqui, com um prefeito ali, conseguindo um conveniozinho aqui, outro ali. Folha - O sr. acha que não dá para o parlamentar comparecer na segunda e na sexta? Zé Gomes - Só se for um desocupado. Acho que o deputado tem que estar em Brasília terça, quarta e quinta. Segunda e sexta, vai tomar conta da vida dele. É o aniversário da cidade, do prefeito, da mulher do prefeito, uma série de coisas que o parlamentar tem que estar presente. Folha - O sr. pretende optar pela carreira de fazendeiro? Zé Gomes - Estou deixando a vida pública por praticamente dez anos. Preciso de um tempo para viver o Zé Gomes. Aos 18 me elegi vereador e até hoje não dormi uma noite sem mandato. Quero poder abraçar alguém sem que ele pense que é um abraço de político. Folha - Este mandato o sr. leva até o fim? Zé Gomes - Levo. Vou continuar meu trabalho de porta de ministério. Folha - O que considera seu maior feito? Zé Gomes - Foi em 12 de julho de 89, me filiar ao PRN e me eleger deputado, dando ao Collor mais cinco minutos de TV. E no seu governo ter tido trânsito livre. Pude trazer para Goiás obras que nenhum deputado conseguiu. Folha - Sua volta à política vai coincidir com a volta de Collor? Zé Gomes - É, eu quero voltar com ele. Se a anistia que a gente vai propor passar, acho que ele devia sair deputado federal por São Paulo. E se formos esperar até 2002, acho que ele tem condições de se reeleger presidente. Folha - O sr. conseguiu obras com emendas ao Orçamento? Zé Gomes - A maioria das obras, 99%, não tinha verba do Orçamento. Fui incompetente, não dei conta de estar junto com os poderosos naquela época. Se um deputado tem acesso a um grupo que manipula o Orçamento e ele não entra, é muito ruim de serviço. Folha - O sr. diz ter doado ambulâncias a vários municípios. Como comprou? É rico? Zé Gomes - Não. Tenho condições de levar um padrão de vida razoável: uma fazendinha, umas vaquinhas, um carro para andar, uma casa, um lugar de descanso. Folha - O sr. é eleito pelo futebol ou pelas ambulâncias? Zé Gomes - Soma, né? Mas acho que sou mais votado pelo Zé Gomes, que vai para a feira chupar abacaxi, que está lá (em Itumbiara) levando quem mora mais distante, que tenta empregar alguém. Se você chegar aqui e perguntar: você votou no Zé Gomes por quê? Nem ele sabe. Votou porque eu descobri o aniversário dele, tomei uma xícara de Chapinha (vinho barato) com ele. Se era mais poderoso passei telegrama. Folha - O sr. admira Fernando Henrique como Collor? Zé Gomes - O Collor não é que eu goste, sou apaixonado. Tenho-o como meu grande líder. O Fernando Henrique eu vejo como um homem já de cabelos grisalhos, com muita elegância a tentar levar o Brasil a condições melhores. Tá ficando bom. Precisa de uma aberturinha, o aperto está grande. Precisa soltar um dinheirinho na praça. Texto Anterior: OS DEPUTADOS QUE MAIS FALTARAM Próximo Texto: Senadores dizem que vão às votações Índice |
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