São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentina faz `seleção natural' em bancos

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O Banco Central argentino está fazendo vistas grossas às instituições bancárias que não estão honrando compromissos com seus clientes por temor de uma nova onda de fuga de capitais.
A receita em vigor é a da prudência. Nenhuma iniciativa de impacto foi tomada para liquidar instituições que se encontrem insolventes.
No mercado financeiro, calcula-se que pelo menos dez bancos estariam nessa situação.
Ao mesmo tempo, o Banco Central estimula uma acomodação do sistema bancário, com a preservação das instituições maiores e mais fortes.
Uma mostra dessa intenção é a falta de providências do Banco Central para diminuir a concentração em grandes bancos privados dos depósitos que retornam ao sistema financeiro.
Desde o início da crise mexicana, em dezembro de 94, saíram do sistema financeiro argentino cerca de US$ 8 bilhões -17,8% do total de depósitos.
Segundo declarações do presidente do Banco Central, Roque Fernandez, cerca de US$ 3 bilhões haviam retornado aos bancos argentinos em junho.
Estima-se no mercado financeiro que, 50% desse total foi aplicado em instituições de grande porte.
Em junho, o volume de depósitos teria crescido nesses bancos entre 6% e 7%, em média.

Seleção natural
O crédito concedido por essas instituições, em contrapartida, teria aumentado apenas 1% no mesmo período.
Segundo Roberto Vasani, 36, diretor da consultoria empresarial Deloitte & Simonsen, o Banco Central estaria motivando uma espécie de ``seleção natural" no sistema bancário.
A saída para os pequenos e médios bancos privados com problemas para dar o retorno às aplicações dos clientes seria a fusão com instituições maiores ou simplesmente a venda.
Essa tem sido a prática vigente. De dezembro de 94 a maio de 95, foram absorvidos por outras instituições 37 bancos do país. Apenas dois foram liquidados pelo Banco Central e nove, suspensos.

Pequenos bancos
Segundo Enrique Busto, 59, representante do Bamerindus, dos pequenos bancos cooperativados, devem restar apenas 6. Foram justamente estes bancos os alvos mais comuns nos processos de fusão.
A situação do sistema bancário, garante Busto, deve estar mais acomodada até os próximos 60 dias.
Em outubro, por exemplo, o Banco Central deve voltar a cobrar dos bancos os dois pontos percentuais do compulsório sobre depósitos que havia reduzido nos últimos meses.
Essa medida havia sido tomada para garantir maior liquidez às instituições.
Outra decisão do Banco Central -ainda sem data marcada- é a estipulação de um capital mínimo de US$ 50 milhões para os bancos.

Texto Anterior: Estado não deve interferir, diz consultor
Próximo Texto: País é o terceiro em depósitos nos EUA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.