São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Empresário espalha seus negócios pelo planeta

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Rupert Murdoch é uma encarnação exemplar dos três clichês mais utilizados para definir o mundo atual: globalização, informação e competitividade.
Proprietário de um império de comunicações que vai do cinema à multimídia, passando pela imprensa, TV aberta e por assinatura, Murdoch não vê fronteiras em seus horizontes. Australiano naturalizado norte-americano, seus negócios estão espalhados por todo o planeta.
No Brasil, além da anunciada associação com a Globo para a exploração de TV por assinatura na América Latina e Caribe, o empresário pode vir a ter outros interesses. Ele fechou, em abril, um acordo com a MCI, telefônica norte-americana de longa distância, com faturamento anual em torno de US$ 13 bilhões, que vem investindo na área de serviços on-line e software.
A MCI é responsável por um serviço de linhas privadas na Bolsa de Valores do Rio, para contato com clientes, e tem planos de crescer no país -já estaria articulando entrada no setor de redes corporativas e linhas para a Internet, para novembro.
A união de Murdoch com a empresa norte-americana, que gerou a MCI joint venture, foi firmada com o propósito genérico de apostar na área de multimídia e serviços on-line, na qual Murdoch já possui a Delphi Internet Services.
Mas nada foi dito sobre o que, exatamente, empresário e telefônica fariam juntos.
Soube-se apenas que o negócio rendeu frescos US$ 2 bilhões à News Corporation, empresa-mãe de Murdoch, com faturamento estimado em mais de US$ 10 bilhões para este ano, da qual a MCI passou a deter 13%.
Em entrevista à revista ``Business Week", de 29 de maio, quando dizia estar de olho na América Latina, Murdoch deu uma significativa explicação para o interesse da MCI: ``Acredito que o que os atraiu foi nossa natureza global e, obviamente, nossas ambições globais".
Essas ``ambições globais" estão levando o megaempresário a utilizar a injeção de dinheiro da MCI para, com o que já armazenava em caixa, tentar a aquisição de um novo grande grupo ou veículo.
``Temos cerca de US$ 3 bilhões, nos quais não queremos tocar. Vamos esperar até podermos comprar alguma coisa", dizia na mesma entrevista.
``Alguma coisa" pode pertencer, por exemplo, ao grupo Fininvest, de Silvio Berlusconi. Murdoch estava por concluir com o ex-premiê -nota dispensável na biografia política da Itália- o controle de seus três canais de TV. A News Corp. teria oferecido à Fininvest US$ 2,8 bilhões por 51% das televisões.
Mas o negócio entrou em estado crítico no meio da semana e ficou para ser anunciado hoje. Berlusconi retardou o acordo e descobriu-se que tratava simultaneamente com o príncipe saudita Al-Walid, o mesmo que ajudou a bancar a crise da Eurodisney, na França.
O príncipe tem trunfos. Entre eles, a aliança com Leo Kirsch, barão da mídia alemã, e com o grupo Richemont, da Suíça -ambos já associados a Berlusconi em outros empreendimentos.
O jornal ``The New York Times" fala ainda de um suporte da norte-americana Time Warner, gigante das comunicações, concorrente de Murdoch em diversos segmentos, do cinema à editoração, passando pela própria TV.
A Time Warner lançou em janeiro a WB, que entra em disputa direta com a Fox, do empresário australiano, na tentativa de desestabilizar o domínio da CBS, ABC e NBC, as três grandes redes de TV norte-americanas.
Esperando o desenlace do negócio com a Fininvest, Murdoch vive o pesadelo de ter de explicar ao Congresso suas relações com o líder republicano Newt Gingrich -a quem sua editora adiantou US$ 4,5 bilhões, por dois livros, e de quem teria recebido ajuda para livrar-se de acusações contra a Fox. Gingrich teria ainda dado um conveniente apoio à nova legislação sobre concentração de meios de comunicação, em tramitação no Congresso.
Com tempo até 1º de agosto para preparar suas explicações, Murdoch vive também o sonho de estar conseguindo colocar a Fox no clube fechado das grandes redes. Um encontro entre as emissoras do grupo, no início da semana, em Los Angeles, foi aberto com declarações entusiasmadas do "chairman" Chase Carey, exortando todos à nova meta: ocupar a liderança nacional.
Anunciou-se, no encontro, que a Fox, pela primeira vez na sua história, ultrapassou US$ 1 bilhão na comercialização de seu horário nobre, patamar só atingido pelas três grandes.
A rede, entre outras pirotecnias de marketing, pagou US$ 1 milhão à companhia aérea Western Pacific para ter propaganda do desenho ``Simpsons" -sua grande atração- estampada nas fuselagens dos boeings.
Definido por alguns como ``sedutor", acusado por outros de gangsterismo, policiado por suas inclinações monopolistas, o certo é que Murdoch joga no ataque.
Nascido em 11 de março de 1931, filho de sir Keith Murdoch, proeminente jornalista de Melbourne, frequentou Oxford -e, diz a lenda, ficou conhecido entre colegas como ``vermelho", por ter um busto de Lênin em seu quarto.
Hoje, Murdoch decora seu escritório na Twentieth Century Fox, em Los Angeles, com telas abstratas australianas e peças de Andy Warhol, que reproduzem páginas de seus tablóides.
Seu primeiro gol foi a recuperação de um jornal da família, o ``Adelaide News", seguindo a receita sensacionalista que aprendera na Inglaterra. Em 1969, comprou o semanário britânico ``News of the World".
Nos anos 70, começou sua escalada nos EUA. Suas primeiras aquisições foram o ``San Antonio News" e o ``San Antonio Express", aos quais aplicou o mesmo formato popular.
Hoje possui mais de uma centena de títulos, entre eles o ``The Times" e o ``The New York Post", estúdio de cinema e TV por assinatura na Ásia, Oriente Médio, Índia, Alemanha e Reino Unido. É praticamente impossível viajar pelo mundo sem topar em alguma coisa de Murdoch.
A história do australiano, que se naturalizou em 1985 para contornar problemas com a legislação norte-americana, é um festival de compras ousadas, endividamentos perigosos, ameaças governamentais, sedução de políticos e êxitos estrondosos.
``Os negócios mais bem-sucedidos nascem da capacidade de se aproveitar as oportunidades", costuma dizer. Para Murdoch, o senso de oportunidade é mais do que uma virtude. É a religião.

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