São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arsenal da Marinha explode no Rio

DA SUCURSAL DO RIO

Explosões e incêndio iniciados às 17h25 de ontem destruíram parte do Centro de Munição da Marinha, na ilha do Boqueirão, ao lado do bairro do Bananal, na Ilha do Governador, zona norte do Rio. O centro é o maior depósito de munição da Marinha no país.
Ouvidas em vários pontos da cidade, inclusive no centro, as explosões formaram um cogumelo de fumaça de centenas de metros de altura.
Às 20h, o Hospital da Força Aérea confirmou a existência de feridos, mas não informou quantos. Extra-oficialmente, três pessoas haviam sido levadas ao hospital, na Ilha do Governador.
Os feridos teriam sido levados ao local em helicópteros. Desde às 18h que helicópteros das Forças Armadas e das polícias estaduais tentavam aproximar-se do local para resgatar feridos.
O impacto das explosões quebrou vidraças e destruiu detalhes como tetos de gesso de casas e prédios das redondezas. A previsão dos bombeiros era de que o incêndio iria continuar durante a noite toda.
Os estilhaços vindos das explosões impediam a aproximação dos bombeiros que tentavam chegar à ilha do Boqueirão por via marítima -não há ponte entre esta ilha e a do Governador.
Um bombeiro afirmou que o deslocamento de ar gerado por uma das explosões fez com que ele fosse jogado ao solo. Segundo ele, o comando da corporação decidiu não tentar a aproximação da ilha.
A ilha do Boqueirão fica a cerca de 400 metros do morro do Boqueirão, na extremidade norte da Ilha do Governador, do lado oposto ao do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão).
A Infraero, empresa que administra o aeroporto, chegou a cogitar em fechar o Galeão para pousos e decolagens. A providência, porém, não chegou a ser adotada.
O acidente causou pânico nos moradores da Ilha do Governador, que abandonaram suas casas com medo das explosões. Os telefones chegaram a ficar mudos.
As explosões mais fortes faziam com que poeira com fuligem caísse por todo o bairro do Bananal, principalmente nas proximidades de outra favela, a Zaquia Jorge.
Segundo os moradores, os ruídos lembravam uma guerra. Durante todo o tempo havia explosões menores, como se projéteis estivesse sendo disparados.
Em intervalos maiores e irregulares ocorriam as explosões maiores, que eram ouvidas em um raio de, pelo menos, 12 quilômetros.
Desesperados, moradores da favela do Pixuna, no morro do Boqueirão (em frente à ilha) tentaram utilizar um carro da reportagem da Folha para sair do local.
As pessoas corriam chorando pelas ruas. Algumas chegaram a desmaiar. Às 19h, policiais haviam bloqueado todos os acessos ao morro do Boqueirão.
O almirante da reserva Victor Alberico Boisson Moraes, 62, ex-diretor de Armamentos e Comunicações da Marinha, disse ontem que, em 1988, quando passou para a reserva, o Centro de Munição, a ele subordinado, era o principal depósito de munição de boca da Marinha do país.
munição de boca são para armas de tubo, como canhão, fuzil, bazuca, revólver e metralhadora. O almirante afirmou que ``seguramente" a ilha não guarda armas como mísseis e torpedos.
``Apesar de eu ter deixado a Marinha há sete anos, não se prepararia um local para este tipo de munição em menos de dez anos", disse.
Segundo ele, na época, entre 400 e 500 militares trabalhavam na ilha do Boqueirão, sendo que a maioria não morava na ilha.
Segundo o chefe da Comunicação Social do governo do Estado, Paulo Jerônimo de Souza, as explosões teriam ocorrido em três dos paióis existentes no local.
Souza afirmou que o governador Marcello Alencar determinara a mobilização da Defesa Civil para atender eventuais feridos no acidente. O acidente tumultuou o trânsito em toda a ilha do Governador.

Texto Anterior: Show reúne 5.000 no parque Ibirapuera; Marinheiro argentino é morto em assalto no Rio; Consulado americano de SP doa acervo de livros; Mãe joga recém-nascido pela janela de prédio; QUINA; SENA
Próximo Texto: Depósito foi construído para `explodir para cima'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.