São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Bienal do Livro do Rio provoca desânimo

DANIEL PIZA; LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a Bienal do Livro de São Paulo, em agosto do ano passado, foi marcada pelo tom de euforia -e visitada por 1,2 milhão de pessoas em 11 dias-, a do Rio de Janeiro, que começa daqui a um mês, terá o timbre do desânimo.
Em 1994, a produção editorial cresceu 10,5% em relação a 93, com um faturamento de US$ 1,2 bilhão -a maior parte após o Plano Real.
Mas, desde março desse ano, o mercado editorial enfrenta um período de crise.
O presidente do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), Sérgio Machado, avalia em 20% a queda de vendas do segundo trimestre em relação aos três primeiros meses de 95.
``Está um certo marasmo, mas comparando com o mesmo período do ano passado houve uma melhoria", diz Machado.
Mesmo assim, a queda das vendas pegou o setor desprevenido. Algumas livrarias fecharam e outras estão inadimplentes com as editoras, que, por sua vez, estão adiando lançamentos.
``A Bienal do ano passado veio na euforia do plano Real, mas depois caímos de quatro", diz Pedro Paulo de Sena Madureira, da Siciliano.
Sena Madureira conta que a editora pretendia lançar 12 títulos por mês em 95, mas teve de se conformar com sete lançamentos. ``Aquela foi a Bienal do Real, esta é a Bienal da realidade."
``As livrarias estão inadimplentes, o papel está caro, o custo das gráficas é cada vez mais alto. Por isso o livro está caro e as vendas, paradas", diz Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, que publicou a biografia de Darwin.
Com 750 páginas, a um preço de R$ 45, o livro vendeu 3.000 exemplares em 20 dias.
Mas o sucesso relativo do livro não significa que o preço esteja acessível. ``Edmund Wilson - A Life", de Jeffrey Meyers, recém-lançado nos EUA, com capa dura, ao contrário de ``Darwin", e número semelhante de páginas, custa US$ 35, ou cerca de R$ 32.
O preço do livro no Brasil está alto (R$ 0,072 por página, em média). A justificativa é a alta dos juros e dos custos de serviço e matéria-prima no último ano.
Segundo o SNEL, há pouco mais de um ano, na época da URV, uma lauda de tradução custava 3,50 URVs, hoje sai por R$ 10. Na mesma época, o quilo de papel podia ser comprado por 0,58 URVs e hoje está cotado a R$ 1,1.
Um dos setores que mais sofreu com a queda das vendas foi o de livrarias em shopping centers.
``É um público específico, que compra por impulso e é o primeiro a cortar os gastos com livros", explica Machado.
Paralelamente, a venda em sebos tem crescido. É possível encontrar ``A Lanterna na Popa", de Roberto Campos (Topbooks), que custa em livrarias R$ 40, por R$ 25 em sebos, em bom estado.
A alternativa de esperar os livros chegarem aos sebos é a versão ``primo pobre" da opção de que dispõe o norte-americano: pode esperar a edição ``paperback" (capa mole, papel mais barato) que é publicada pouco depois do lançamento da edição ``hardcover", que tem preço no mínimo 50% mais alto.
Idéias para reverter a situação são raras. Para alguns editores, uma solução para aquecer as vendas seria a criação do crediário.

Expectativas
É nesse quadro que a 7ª Bienal Internacional do Livro começa no dia 16 de agosto no Riocentro, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio).
Esse ano, 440 expositores apresentarão 125 mil títulos nos 22 mil metros quadrados do Riocentro. A expectativa é de que mais de um milhão de pessoas visitem os estandes nos 12 dias do evento.
Se isso se confirmar, já será um salto em relação à última edição, em 93, quando a Bienal ofereceu 123 mil títulos e foi visitada por 919 mil pessoas. Naquela época, pré-Real, as vendas atingiram 2 milhões de exemplares.
Para o presidente do SNEL houve uma euforia exagerada com o plano: ``Houve um excesso de lançamentos, muita editora nova no mercado, muito livro novo. Está havendo uma depuração", analisa.
Ele lembra que, tradicionalmente, o segundo trimestre é uma época de entressafra. E torce para que, com a Bienal, haja uma melhora.

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