São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Falta humor em `Sangue do meu Sangue"

ESTHER HAMBURGUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 19/07/95
Na crítica da novela "Sangue do Meu Sangue" publicada á pág. 5-5 da Ilustrada de 17/7, a referência correta quanto à efeméride que está sendo observada este ano é 300 anos da morte de Zumbi, e não de seu nascimento.
Falta humor em `Sangue do meu Sangue"
A nova novela do SBT ``Sangue do Meu Sangue" representa esperança em várias frentes. A emissora espera consolidar a fatia da audiência conquistada com ``Éramos Seis" e mantida com ``As Pupilas do Senhor Reitor".
Os profissionais ligados à fábrica de novelas do SBT torcem pela sedimentação de um núcleo de produção de qualidade em São Paulo.
``Sangue do Meu Sangue" reúne uma equipe simpática. Além de Lucélia Santos e Rubens de Falco, consagrados por ``A Escrava Isaura" conta com a participação de atores de teatro que não costumam atuar em novelas, como Cacá Rosset e Beth Coelho (ambos ainda por entra na trama). Há inovação também na equipe de roteiristas que reúne Rita Buzzar, Paulo Figueiredo e Ecila Pedroso. Traz ainda veteranos de sucesso de ``Éramos Seis" como Irene Ravache e Osmar Prado.
Mas a ambição de ``Sangue do Meu Sangue" vai além. A novela, de época, tem como pano de fundo os últimos anos do reinado de D.Pedro 2º e o processo de libertação dos escravos. Nada mais oportuna do que essa tematização das relações raciais no ano em que comemoramos 300 anos de nascimento de Zumbi.
A abertura tem um tom meio ufanista. Toma um hino cívico como tema musical. Em 1995, a vinheta alude à Lei do Ventre Livre de 1871, ao som do hino da Proclamação da República de 1889. Uma escrava dá a luz a um menino. O pai retira o bebê liberto do ventre de sua mãe, rompe seus próprios grilhões, e corre com a criança nos braços pelos campos do senhor. Ouvimos as estrofes do hino: ``Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós".
Na primeira semana, o dramalhão preponderou sobre a anunciada reflexão histórica que deve, no entanto, esquentar no futuro com a campanha abolicionista. Por enquanto, as referências a fatos históricos se concentraram no primeiro capítulo.
Em um baile, que poderia ser o da Ilha Fiscal cerca de 15 anos antes, a princesa Isabel tira o mulato André Rebouças para dançar, demonstrando a modernidade do comportamento que deveria ser seguido pela corte.
Em ``Sangue do Meu Sangue" o heroísmo épico dos líderes dos escravos convive com as lágrimas dramáticas das sinhazinhas de então. Os capítulos iniciais se dedicaram aos romances, traições e filhos ilegítimos do núcleo principal de personagens. A imagem da corte emerge dramática, promíscua e cruel.
Longe do otimismo da abertura, a novela retrata a elite do Brasil do fim do século composta de homens fracos, canalhas ou ingênuos. As mulheres têm força e iniciativa, mas são sofredoras. Desempenharão papel liberalizante. Longe da pureza pretendida pela aristocracia, os filhos são sempre mestiços.
O excesso de lágrimas incomoda. O humor faz falta. A produção bem cuidada, talvez inadvertidamente torne o telespectador mais exigente.
É esquisita, por exemplo, a combinação da luz quente das velas com a luz fria que penetra através das persianas em cenas noturnas.

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