São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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EAD traz `Marat-Sade' de volta ao Brasil

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Peça: Marat-Sade
De: Peter Weiss
Direção: Francisco Medeiros
Com: os alunos da Escola de Arte Dramática
Onde: Teatro-Laboratório ECA/USP (av. Prof. Luciano Gualberto, trav. J, 215, Cidade Universitária, tel. 818-4321)
Estréia: Hoje, às 20h
Quando: quarta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h
Entrada: franca

Montagens amadoras de grupos formados por estudantes são uma constante na história do teatro brasileiro. A EAD (Escola de Arte Dramática) e a ECA (Escola de Comunicações e Artes), da USP, oficializam a tradição com a abertura de um teatro exclusivamente dedicado a esse fim.
Chama-se Teatro-Laboratório ECA/USP e tem duas salas, uma com 120 lugares e outra com 180, dedicadas às montagens dos alunos das duas escolas.
A estréia no espaço hoje da EAD, escola de nível médio vinculada à ECA, é especial também por outra razão. Recupera um texto há muito ausente no Brasil, do dramaturgo alemão Peter Weiss (1916-1982), cujo título, de tão extenso, merece parágrafo próprio.
Chama-se ``A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat Representados pelo Grupo Teatral do Hospício de Charenton sob a Direção do Senhor de Sade".
Mais conhecida por ``Marat-Sade", foi escrita em 1964 e integra a verve engajada do dramaturgo (leia texto ao lado).
``Marat-Sade" é o encontro imaginário do revolucionário Jean-Paul Marat, um dos líderes da Revolução Francesa de 1789, com o escritor francês Donatien Alphonse François de Sade (1740-1812), o Marquês de Sade.
Weiss imagina Sade como autor de uma peça teatral sobre Marat, a ser encenada pelos internos do hospício de Charenton.
Sade esteve realmente preso no hospício, nos últimos 11 anos de sua vida, considerado elemento perigoso e pervertido. Participava realmente de montagens com os pacientes do sanatório, mas nunca escreveu sobre Marat.
A trama é pretexto para Weiss discutir o poder, assunto candente nos idos de 1964.
O diretor Francisco Medeiros (que montou em 94 ``A Gaivota", de Tchecov), reconhece no texto certo teor ``datado".
Mas os tempos são outros e os estudantes de hoje não são os mesmos jovens engajados que fizeram experiências como as do Teatro de Arena, libelo da revolução nos anos 60.
``Tentamos fazer a peça hoje não soar engajada. Por outro lado, é muito interessante hoje colocar para a platéia a palavra `Revolução', discutir qual é atualmente nosso desejo de mudar e onde ele empata, perde ou ganha do nosso acomodamento", diz Medeiros.
Não só o desejo de colocar a Revolução em pauta move a escolha do texto. Ela faz parte do projeto da EAD de reunir seus alunos de 3º e 4º anos em oficinas de interpretação.
``Marat-Sade", com grande número de personagens, vem a calhar -são 25 atores em cena. O fato de serem todos loucos de um hospício dá, segundo Medeiros, individualidade e liberdade de criação a cada um dos atores. Fica cumprida, assim, a finalidade maior da oficina e da escola.

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