São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Paternidade disputada

A perda de ritmo que as privatizações sofreram no governo Itamar Franco parece ter sido um infeliz acidente de percurso. Há alguns anos vem crescendo o consenso quanto à conveniência e necessidade desse item fundamental para a modernização econômica do país. Nesse sentido, a cobrança do PFL em favor de uma aceleração do processo só pode ser bem-vinda.
Da tese geral à sugestão de que seja criado um novo ministério, entretanto, há uma grande distância. A experiência de governos passados sugere que mudanças ministeriais atendem quase sempre a movimentações políticas e poucas vezes a imperativos administrativos. De fato, a disputa pela bandeira da privatização é também um item da luta política e partidária. E um posto de primeiro escalão é sempre um quinhão de poder, acompanhado dos respectivos cargos.
A insatisfação generalizada com os serviços públicos, ademais, pode render bons dividendos a quem seja identificado como condutor da reforma do Estado. A associação entre a venda de empresas estatais ineficientes e a idéia de modernização torna o tema ainda mais atraente do ponto de vista político.
Além da demanda por um setor público que seja menor em tamanho e melhor em qualidade, as privatizações têm ainda um importante papel nas reformas que visam a reequilibrar as contas públicas. Assim, seja por seu respaldo na sociedade ou como imposição das circunstâncias, as desestatizações são hoje um processo inexorável.
A ramificação do Estado em atividades as mais variadas gerou inúmeros focos de ineficiência econômica e reduziu ainda mais a dedicação do setor público a suas funções precípuas. Áreas sociais como saúde e educação -cuja importância para o desenvolvimento nacional é cada vez maior- permanecem relegadas. E o Estado vinha despendendo enormes recursos e esforços para manter sob seu controle atividades as mais estranhas a suas verdadeiras funções.
As privatizações estão identificadas ao nascimento de um novo ciclo de crescimento e modernização. A disputa por sua paternidade não ocorre à toa.

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