São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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São Bernardo socorreu as vítimas da Fiel

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, rolava o segundo ato do jogo do último sétimo dia, aquele do descanso, no como era verde o meu vale do Pacaembu. O segundo e peremptório ato, já que o primeiro...
Há uma falta para o Corinthians, no intermezzo direito da defesa da Portuguesa. Vejo o Bernardo, que quase no desfecho do drama se metamorfosearia no santo Bernardo, mussitar algo ao pé do ouvido do Marcelinho, o menino do Rio.
Marcelinho leva a efeito com todo o efeito possível um tiro que procura, como uma seta desferida por um arqueiro da paz japonês, a cabeça de Bernardo que entrava na paralela da risca esquerda da pequena área do grande Paulo César.
Bola para fora.
Aos 43 min, Zé Elias, já um veterano ardiloso para a sua pouca idade, prende a bola para chamar a preciosa penalidade de média para cima. A defesa da Portuguesa -o experiente Capitão, se não me engano- cai na arapuca da falta.
(Quem joga no time de Marcelinho sabe que ele é um caso estatístico: em X chutes, a probabilidade de a bola entrar no gol adversário é de Y. Portanto é só deixar ele atingir a média estatística que o gol estará garantido. Este foi o cálculo matemático que faltou à alma lusitana).
Marcelinho, novamente, com um tiro de uma velocidade impressionante, leva a efeito com efeitos especiais spilbergianos o chute-passe à cabeça de Bernardo. Yeees! Bingo! Cesta de três pontos! (Valiosíssimos para o alvinegro).
Foi a crônica de uma estratégia anunciada. Uma jogada que já tinha passado por um ensaio geral. Por uma pré-estréia. Por um vernissage. Por um trailer. E a lanterna da popa da caravela portuguesa com certeza reincidiu na omissão.
Parece que foi um erro do grande PC, o Preud'Homme do Canindé (aliás, seu uniforme lembra, de longe, um séquito de araras canindés).
Mas, dados a) a velocidade-força do disparo do míssil Marcelinho e b) a trajetória quase rococó das curvas desenhadas pelo bólido, a missão do grande PC era realmente quase impossível.
Bernardo não andava passando pelo crivo, pela peneira, pelo coador. No sistema defensivo do alvinegro, tem sido usado, em vária ocasiões, como um líbero entre aqueles zagueiros que eram chamados de central e de quarto.
Venho criticando-o tanto nas funções defensivas, quanto nas ofensivas. Mas, ele fez o auto-de-fé. Foi o verdadeiro cão São-Bernardo, aquele que socorreu a fantástica magnética corintiana da catástrofe.

Se Bernardo foi um santo para a Fiel, foi o demo para as fabulações da Fabulosa. Limou o Caio do campo. Logo ele, Caio, até agora, para mim, o melhor jogador deste Campeonato Paulista de 95.
Que maravilhoso este país onde se pode reunir tantas vozes para se gravar um uníssono da bola: que tal um ataque composto por Marcelinho, Caio, Giovanni e Rivaldo, todos eles fora da seleção?

O Palmeiras acordou. Na hipótese de uma final contra o Corinthians, ela será a melhor dessas todas dos últimos anos entre os dois, pois, o que o alviverde perdeu, o alvinegro repôs.

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