São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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Inglês retrata vida desmesurada de Balzac

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Resumir num único volume a vida e a obra do escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850) é uma missão impossível, mas o inglês Graham Robb, 37, chegou bem perto de cumpri-la.
Sua biografia ``Balzac", que chega agora ao Brasil, um ano depois de sair na Inglaterra, é uma tentativa heróica de abarcar o inabarcável: os 51 anos de vida e mais de cem livros de um autor literalmente monstruoso.
Os anglo-saxônicos sempre foram fascinados por Balzac, e muitas vezes reconheceram seu valor antes mesmo dos franceses. Para o irlandês Oscar Wilde, ele era simplesmente ``o inventor do século 19". Para o norte-americano Henry James, foi o homem que ``mais entendeu da vida humana desde Shakespeare".
Já seu maior sucessor na literatura francesa, Gustave Flaubert, tinha uma visão mais impiedosa: ``Que homem ele teria sido, se soubesse escrever! Porém era a única coisa que lhe faltava. Afinal, um artista não teria realizado tanto, nem tido tamanho fôlego".
Descontado o tom de Édipo ressentido, Flaubert não deixava de ter razão. Para o bem ou para o mal, a obra de Balzac foi marcada pela exuberância e pelo excesso. Estava longe da perfeição formal de um James ou um Flaubert.

Vida e obra
O maior mérito da biografia de Robb -entrelaçar a obra e a existência de Balzac- torna-se às vezes seu principal problema.
Apesar de sua criteriosa e minuciosíssima pesquisa, o biógrafo em algumas passagens cai na tentação de identificar mecanicamente personagens da ficção balzaquiana com seres de carne e osso com quem o escritor conviveu.
Isso é mais evidente quando ele trata dos romances narrados em primeira pessoa e considerados autobiográficos, como ``Louis Lambert" (1832).
Em compensação, Robb não deixa na sombra nenhum aspecto da acidentada vida do escritor, nem mesmo seus aspectos mais obscuros, da filha ilegítima que teve com uma amante ocasional a sua ambígua sexualidade.
Com respeito a esta última, o livro traz revelações picantes sobre as imprecisas relações de Balzac com o escritor Hyacinthe de Latouche e com os jovenzinhos que contratava como lacaios.
Não se trata de afirmar, como hoje é moda, que o biografado era homossexual, mas de mostrar que, em matéria de sexo, Balzac manifestava uma voracidade análoga à da sua atividade intelectual.
Jornalista, editor, tipógrafo e filósofo franco-atirador, Balzac ainda encontrava tempo para frequentar todo tipo de roda social e de se envolver com aventuras amorosas.
Robb narra em detalhe seu infeliz romance com a polaca Eveline Hanska, casada com um nobre russo. Depois de 17 anos de romance ilícito e copiosa troca de cartas, Balzac enfim se casou com a amante, então viúva, em 1850.
Não teve muito tempo para a felicidade conjugal. Quatro meses depois, com a saúde corroída por décadas de insônia e bules de café tomados compulsivamente, morreu inchado, disforme e imponente como sua própria obra.

Livro: Balzac
Autor: Graham Robb
Tradução: Hildegard Feist
Páginas: 544
Preço: R$ 35

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