São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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Disco de 93 de Iggy Pop mostra que pai do punk prefere baladas cool

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Acaba de chegar às lojas brasileiras ``American Caesar", o novo disco de Iggy Pop, lançado em... 1993. O atraso de dois anos mostra a lastimável situação do mercado fonográfico no que diz respeito a lançamentos internacionais.
Nem dá para entender por que o último trabalho do pioneiro Iggy Pop, em atividade no rock desde 1967, ganha versão brasileira.
O que faria a Virgin lançá-lo dois anos envelhecido, numa era em que (como profetizava Andy Warhol à época em que Iggy iniciava sua carreira) 15 minutos de fama já é exagero?
Nada, claro. A explicação para o lançamento pertence às trevas. Iggy não cabe no ano de 1995, como não cabia no de 1993. Mas sua longevidade é, como mostra em ``American Caesar", bem maior que os tais 15 minutos. Pecado inadmissível nos tempos de hoje.
Se há atenuantes para o pecado, estão em sua fama de punk, de pesado, que rende lucros nas facções mais retrógradas dos metaleiros.
O disco tem vários momentos heavy. São, naturalmente, as faixas mais chatas e enfadonhas.
É que o rótulo de pai do punk (e avô do heavy metal) não cabe também em Iggy. As melhores (e felizmente abundantes) músicas do disco mostram que o velho roqueiro é cool, muito cool.
Exemplos não faltam, como em ``Jealousy" e ``Highway Song", baladas climáticas de registro western. ``Fuckin' Alone", em especial, é exemplar. Mostra que, se na superfície Iggy é quase banal, é nos cantos e arestas das canções que esconde lirismo e criatividade prontos para dar o bote.
Assim, ``Mixin' the Colors" esconde no refrão um vocal feminino que reforça o discurso multiculturalista da letra e revela uma quase escondida ode à música.
Em ``Sickness", um fantasma camarada parece passear nas entranhas de um rock de arcabouço pobremente metaleiro, elevando a música ao nível da fina ironia.
E, supra-sumo do deboche, Iggy começa ``Louie Louie" em tom radiofônico: ``E agora, as novidades". A música, de 1957, fez a cabeça do jovem Iggy (que a regravaria em 1976) em versão dos Kingsmen. Iggy sabe das coisas.
Enfatiza a cada momento que faz parte da história. Como se fosse possível esquecer disso em cada suspiro que solta, fazendo lembrar as vozes de Lou Reed, de John Cale, de David Bowie (como ele, figuras-satélites do pai da arte pop, Andy Warhol).
Engraçado como ouvi-los significa ouvir não vozes individuais, mas antes uma espécie de entidade, aquela que tem por apelido o sobrenome escolhido por Iggy.
Não à toa, ele chega-se hoje mais às baladas cool que à podreira pesada. Andou se aproximando da ex-B-52's Kate Pierson e da ex-Blondie Debbie Harry (autora da pérola obscura ``Debravation", de 1993). Iggy sabe o que é bom.

Disco: American Caesar
Artista: Iggy Pop
Lançamento: Virgin
Preço: R$ 20 (em média)

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