São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 1995
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Um distribuidor na distribuidora

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Djalma Morais, último ministro das Comunicações de Itamar Franco, começa a trabalhar hoje na BR Distribuidora. Dono de biografia fosca, Djalma foi guindado ao novo posto graças a uma única credencial: é amigo íntimo de Itamar.
No mais, sua familiaridade com a BR Distribuidora é vocabular. Como ministro das Comunicações, foi medíocre. Mas como distribuidor foi um profissional. Distribuiu concessões de serviços públicos de telecomunicações como ninguém. Um escândalo ainda pendente de explicação.
Foram 349 concessões, liberadas entre 26 e 30 de dezembro, últimos dias da gestão Itamar. Entre os beneficiários estava o mineiro Luiz Mário Pádua, um ex-assessor do governo do Distrito Federal que entende tanto de telecomunicação quanto Djalma de combustíveis.
O afilhado de Itamar não será um qualquer na BR. Será eleito hoje pelo conselho administrativo da empresa para o posto de vice-presidente. Na prática, comandará a empresa. Nas subsidiárias da Petrobrás, quem manda é sempre o vice.
A volta de Djalma é a prova definitiva de que a Petrobrás deve ser privatizada. O mesmo raciocínio vale para as estatais telefônicas.
Os últimos movimentos do atual ministro das Comunicações, Sérgio Motta, oferecem a melhor evidência de que a Telebrás também deve ser arrancada das mãos do Estado.
Sérgio Motta está rateando politicamente as chamadas teles. Num festival de nomeações que começa nesta semana, entregará as empresas a apadrinhados dos políticos que sustentam o governo.
As autoridades da atual administração justificam de forma singela a retomada do rateio de cargos. Dizem que o vício não é do governo, mas dos partidos. Não haveria outra forma de azeitar o relacionamento com o Congresso.
Ainda que cômodo, o raciocínio é de utilidade nula no caso de Djalma. Itamar não possui votos no Congresso. De resto, entre os pressupostos da eleição de Fernando Henrique está o de modernizar velhas práticas políticas.

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