São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 1995
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`Todo deslocamento é positivo'

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Se uma viagem é um deslocamento no tempo e no espaço, para um deficiente visual é também uma maneira de se aproximar do mundo. E, em último caso, de todas as suas potencialidades.
O professor João Álvares Fellipe, 41, do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual Paulista, Unesp, trabalha com deficientes visuais desde 1975. Hoje seu trabalho é voltado para a independência de cegos.
Para ele, o turismo, a viagem como forma de diversão, é antes um exercício de interação entre o deficiente e o lugar em que vive.
Fellipe, que já trabalhou com 1.060 cegos, acredita que qualquer deficiente, ao menos do ponto de vista de suas limitações, poderia viajar sozinho.
As dificuldades viriam então da forma que a sociedade recebe esses viajantes. ``As maiores barreiras são sociais. A própria família, o que é normal, é muito protetora. Superado esse primeiro obstáculo, ele pode alçar vôos mais amplos".
Mas esse ato de independência parte da afirmação da imagem do deficiente como cidadão e é sempre dificultado pela legislação de vários países. E também do Brasil.
``Em todos os meus anos de trabalho, jamais fui procurado para orientação de guias de viagens para pessoas cegas. A forma de tratar um deficiente é decisiva para o seu desenvolvimento."
Para aquele que não vê, a experiência de visitar novos lugares é feita por meio de sensações. O que geralmente se esquece é que viajar é colocar os pés sobre o desconhecido. E para um deficiente a noção de viagem se transfigura.
``Para um cego, uma grande viagem pode ser apenas a trajetória de casa até o trabalho. Todo o deslocamento é positivo."

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