São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 1995
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Atalho uruguaio

ALBERTO HELENA JR.

A seleção do Uruguai pegou o atalho, desguiou-se de Brasil e Argentina, para chegar às finais da Copa América sem tropeços, embora capengando.
Sim porque, apesar do típico fanatismo que as seleções sul-americanas despertam nos seus respectivos compatriotas, nem os uruguaios espiam seu time com os devidos respeito e paixão habituais nesta margem do Equador.
Aliás, quase nem espiam, como prova o borderô do jogo contra a Colômbia, anteontem, em Montevidéu, válido pela semifinal do torneio.
Não mais que 30 mil uruguaios foram ver seu time classificar-se para a final, em pleno estádio Centenário, o mesmo que viu brotar no seu gramado histórico a legenda da Celeste Olímpica.
Isso porque já há tempos o futebol apresentado por suas últimas seleções longe está da sua tradição.
É bem verdade que o time que disputa a 37ª Copa América é bem melhor do que aqueles que estiveram há dois anos no Equador e, mais tarde, nas eliminatórias da Copa do Mundo dos Estados Unidos.
Pego como exemplo o meia Francescoli, o que foi saudado, quando surgiu, como o mais digno sucessor de Pedro Virgílio Rocha, atual técnico do Mogi Mirim.
Jamais chegou a empalmar o cetro de seu antecessor.
A bem da verdade, lembro-me vagamente de duas ou três grandes exibições desse jogador de inegáveis recursos técnicos nestes anos todos, fosse na seleção uruguaia, fosse jogando no futebol italiano.
No entanto, nesta Copa América, ele vem cumprindo o papel de centro de gravidade de sua equipe, com uma constância, para mim, até então inédita.
Isso já quer dizer muita coisa, sobretudo se somarmos ao talento redivivo de Francescoli a tradicionalíssima garra uruguaia incorporada no estilo defensivo que sempre foi o ponto alto dessa escola de futebol.
Aí, teremos na final, sempre um sério candidato ao título.

O que estão fazendo com Telê Santana no São Paulo não é apenas ingratidão, mas, sobretudo, burrice.
Confirmem o homem no cargo, com todo louvor, que outra tacada dessas nem daqui cem anos.
E dêem-lhe uma defesa inteira, de lateral a lateral, de presente pelos incomparáveis serviços prestados ao clube nos últimos anos.
Do meio-campo pra frente, não há problemas, como tem provado o tricolor, seja em derrotas como a frente ao Palmeiras, seja nas vitórias como as sobre o Grêmio e o Flamengo, pela Copa dos Campeões Mundiais.
E isso sem contar com Juninho, hein.
Agora, sem laterais e com um miolo de zaga que é um buraco negro, nem uma comissão técnica composta pelos espíritos de Joreca, Feola e Bella Guttman daria um jeito no time.

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