São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Medida do governo pode prejudicar prática do aeromodelismo no país

ROGER MODKOVSKI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma portaria do Ministério das Comunicações publicada em 12 de junho pode prejudicar a prática do aeromodelismo controlado por rádio no Brasil.
A portaria número 156 dispõe sobre as condições de uso de frequências de rádio nas faixas de 72 e 75 MHz (megahertz).
A frequência de 72 MHz é usada mundialmente para o aeromodelismo. No Brasil, seu uso está regulamentado desde 93 pelo Ministério das Comunicações.
Pela nova portaria, a frequência poderá ser usada para interligar estações receptoras de radiochamadas. A portaria define que a potência máxima dos sinais emitidos entre as estações seja de 30 watts.
Segundo Lourenço Chehab, secretário de Administração de radiofrequências do ministério, esses sinais não interferirão nos controles remotos de aeromodelos. A potência de um radiocontrole é 0,75 watt. ``Como a radiochamada é usada no horário comercial e os aeromodelistas praticam no fim-de-semana, não haverá conflito", diz Chehab.
`Se houver interferência durante um vôo, o modelo pode se desgovernar", teme Antonio Carlos Martins, presidente da ABA (Associação Brasileira de Aeromodelismo). Pesando 3,5 kg e atingindo até 400 km/h, eles podem causar acidentes graves.
A intromissão da radiochamada pode interferir em outros aparelhos que operam em 72 MHz, como controles remotos de televisores, dizem os aeromodelistas, que podem chegar a 200 mil no país.
Discussão
Durante um mês a partir da data de sua publicação, a portaria esteve submetida à discussão pública. Os aeromodelistas ``fizeram barulho" e mandaram correspondência para o ministério contestando-a.
Chehab diz que as observações foram transmitidas à área técnica do ministério.
Ele imagina que possam acontecer três coisas: ou a portaria será desconsiderada, ou o uso simultâneo das faixas será experimentado, ou será procurada outra solução, que pode ser a cessão de outra faixa para as empresas de radiochamada operarem.
História
O primeiro aeromodelista foi o italiano Leonardo da Vinci (1452-1519). Desde aquela época, testar um modelo sempre foi a melhor maneira de descobrir se um avião ``de verdade" decolaria.
A versão moderna do esporte surgiu no século 19. No Brasil, ela começou a ser praticada por senhores de paletó nos anos 20, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Antes do controle remoto, só havia modelos de vôo livre. O dono soltava o avião e ``corria atrás", sem saber para que lado ele iria. Logo surgiram os modelos controlados por cabo. Depois, os radiocontrolados -que podem ser prejudicados pela portaria 156.
Construir um aeromodelo custa de R$ 5,00 (vôo livre) até R$ 500,00 (radiocontrolados), diz Antonio Carlos Martins, da ABA.
A construção pode durar até cinco anos, dependendo dos detalhes. Para criar modelos, usa-se os mesmos materiais das naves espaciais e carros de Fórmula 1.
Os controles remotos são trazidos do Japão e de Taiwan, pagando mais de 100% de imposto.

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