São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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`Amor Bruxo' indica renascimento do musical

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Sobre um musical como "Amor Bruxo", que estreou anteontem em São Paulo, no Palace, é possível mencionar todo tipo de problema. Desde a trama desamarrada e sem conflito até os diálogos de monossílabos, até a cenografia de estruturas Rohr e farrapos, até a limitação da atuação dos protagonistas.
Mas talvez seja o caso de se concentrar no que a peça tem de melhor, ainda que pontualmente.
"Amor Bruxo" tem um bailarino impressionante em Ney El Moro, e o nome está certo. Para um musical que precisa se sustentar o mais possível nos números de dança flamenca, sobretudo porque não tem como se sustentar na ação ou na interpretação, nada melhor do que o Lobo criado por El Moro.
É um personagem secundário, pouco mais do que um figurante, mas que ilumina a peça quando bate o ritmo no palco, que empolga, quando começa a dançar. As cenas mais arrastadas se erguem. O espetáculo ganha força.
Nos números em grupo, quando dança o coro masculino, ele domina a coreografia, ao lado de bailarinos todos exatos no ritmo, em particular ao lado de Áquilas Mendes.
Também na dança, impressiona a qualidade de Freddy Allan, ator-mirim conhecido da TV Cultura, pouco mais do que uma criança, ainda que também um pouco baixo para a idade. Ele acompanha com a força e a graça dos adultos em movimentos relativamente complexos, tirando risos seguidamente e aliviando em alguns trechos a carga do espetáculo.
Em "Amor Bruxo", a música é o que acompanha à altura a dança de Ney El Moro, Áquilas Mendes e das bailarinas do coro feminino, como Andréa Guelpa. Marisoll Jardim, a única cantora, interpreta contida nos gestos mas inteiramente entregue e à vontade na voz as músicas flamencas, algumas empolgantes, outras de grande dor.
Algo estranhamente, as emoções que vêm com a voz de Marisoll Jardim não aparentam ter reflexo na trama, ou uma relação direta com a trama do espetáculo, que corre sem maior sentido, às vezes até se embala na bela música, mas para perder o fio tão logo aquela termina.
Não é apenas a voz da cantora que carrega a envolvente música de "Amor Bruxo", mas um conjunto de duas guitarras flamencas, flauta, violino e percussão, formando uma das bandas de maior qualidade e eficiência já ouvidas nos palcos paulistanos.
Entre os protagonistas, elevam-se a dança de Ruben Gabira, que é um veterano de produções musicais no teatro brasileiro, desde "A Chorus Line", e a interpretação, mais até, a presença, de Carla Alexandar, que é também diretora de coreografia.
Guilherme Leme mal participa das coreografias e teria muito pouco a fazer, além delas. Também Ana Rosa, que interpreta uma velha e sábia cigana, teria pouco mais a fazer, além do pouco que "Amor Bruxo" permite.
O espetáculo está mesmo lá mais pela dança e pela música, seguindo ainda em estágio inicial, infantil até, no libreto, como aliás acontece com toda a incipiente indústria do musical no Brasil. Mas a qualidade de bailarinos e músicos mostra que falta pouco, cada vez menos, para o renascimento do grande musical.

Título: Amor Bruxo
Direção: Roney Villela
Coreografia: Gustavo Cancela
Composição: Fernando de La Rua
Quando: quinta a domingo, às 21h; sexta e sábado, às 21h
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 531-4900)
Quanto: R$ 15,00 (setor 3), R$ 20,00 (setor 2), R$ 25,00 (setor 1) e R$ 35,00 (camarote)

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