São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Grupo Mawaka viaja pelas etnias musicais

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Do Canto dos Pigmeus às Canções Escocesas
Grupo: Mawaka (Fabiana Lian, Marta Espírito Santo, Valéria Piccoli, Magda Pucci e Kitty Pereira), com acompanhamento de Décio Gioielli e Betinho Sodré (percussão), Luiz Antonio Ramoska (fagote) e Atílio Marsiglia (violino)
Direção musical: Kitty Pereira e Magda Pucci
Direção cênica: Telma Bonavita
Onde: Teatro Hall (r. Ruy Barbosa, 672, tel. 011/284-0290)
Quando: Hoje e amanhã, às 21h
Quanto: R$ 10

As cinco vozes femininas do grupo Mawaka (``cantores" na língua iorubá) fazem uma viagem pelo mundo musical das etnias. O show ``Do Canto dos Pigmeus às Canções Escocesas" traz sonoridades de mundos tão diversos quanto Japão e África, Escócia e Turquia.
As canções, retiradas da tradição desses povos, ganham uma releitura contemporânea. É um mosaico de 14 músicas que surpreende: não se trata da chata reprodução folclórica ou típica, mas de harmonizações e recursos vocais sofisticados.
As regentes Kitty Pereira e Magda Pucci recolheram o repertório em livros ou discos produzidos na África, Europa e EUA, onde a pesquisa sobre músicas étnicas está mais desenvolvida.
Mas, em vez de buscar uma reprodução fiel de cada canção, optaram por recriações. ``Não estamos interessadas em cantar da mesma forma como as músicas eram cantadas em sua origem, mas em usar e retrabalhar as sonoridades", afirma Kitty.
O trabalho de recriação, em alguns casos, era mesmo inevitável, já que o grupo só dispunha de registros parciais de algumas canções. ``Nós pesquisamos muita coisa em livros ou partituras que registram apenas a melodia básica. Em cima disso, criamos a harmonia e o arranjo", diz Magda.
Essa característica, aliada ao fato de percorrer diversas etnias, forma a personalidade do grupo. Os grupos de música étnica, em geral, se dedicam a apenas um tipo de música -somente africana ou japonesa, por exemplo. O Mawaka não respeita fronteiras.
O show traz, por exemplo, ``Babanzeli", originária de uma tribo de pigmeus da África Central. Essa música é estruturada em células, trechos melódicos que se repetem continuamente -exatamente o que faz, ou fez depois dos índios, o minimalismo.
Ao lado dessa pequena pérola africana, há coisas como ``Star of Slane", música de rua irlandesa. Longe do ritmo marcado e árido dos pigmeus, ``Star of Slane" remete ao mundo bem ordenado da Idade Média -sua provável época de composição- e à lírica do ciclo da cavalaria.
É um show de transculturalismo, palavra muito em voga hoje nos debates teóricos e que encontra, no Mawaka, uma expressão sedutora.

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