São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saiba o que é "dependência"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os textos e livros que constituíram aquilo que ficou conhecido como Teoria da Dependência jamais formaram um sistema. É por isso que se costuma dizer que não há, a rigor, uma ``teoria" da dependência, mas sim uma escola ou um movimento dependentista.
O rótulo aplica-se antes a uma tradição de pensamento que começou a se formar na América Latina no final da década de 40 e que encontrou sua formulação mais acabada durante os anos 60 e 70.
O livro ``Dependência e Desenvolvimento na América Latina", publicado em 1967 pelo sociólogo chileno Enzo Faletto em parceria com Fernando Henrique Cardoso, é tido como uma síntese e um marco da tradição dependentista.
O conceito de dependência define, em primeiro lugar, uma relação de subordinação entre partes do sistema capitalista.
O financiamento e a importação de indústrias e máquinas não têm sido, em geral, suficientes para gerar um desenvolvimento autônomo, capaz de se autofinanciar e desenvolver tecnologia própria. Os países periféricos não conseguem criar uma economia forte a ponto de pagar as importações e empréstimos que vêm do centro.
Esse vínculo de subordinação e suas implicações foram abordados de forma pioneira pelo economista argentino Raul Prebisch, secretário-executivo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), entre 1948 e 1962.
Em seu estudo ``O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", de 1949, Prebisch introduziu no debate o conceito de ``deterioração dos termos de troca" entre países centrais e periféricos.
Prebisch dizia que os preços dos produtos de exportação dos países periféricos tendiam a diminuir, inversamente do que ocorria com os produtos industrializados. Ou seja, as economias periféricas transferiam renda para para os países industrializados, inibindo ou inviabilizando sua industrialização.
Fernando Henrique e Enzo Faletto introduziram novidades em relação ao debate que havia se iniciado com Prebisch.
Sociólogos por formação, ambos rejeitaram o economicismo da Cepal e reivindicaram a necessidade de se analisar cada caso separadamente, levando-se em conta a configuração política e social de cada país. ``A relação interna das classes sociais é que torna possível e dá fisionomia própria à dependência", escreveram.
FHC e Faletto defenderam que a dependência não implicava necessariamente estagnação econômica. Pelo contrário, diziam, haveria a possibilidade de um ``desenvolvimento associado e dependente", no qual as burguesias nacionais dos países periféricos exerceriam o papel de sócias menores do capital estrangeiro.
As teses de FHC e Faletto colidiam com o que pensavam intelectuais da nova esquerda marxista norte-americana. Trabalhos quase simultâneos ao de FHC e Faletto defendiam a tese estagnacionista.
Essa corrente teve no livro ``O Desenvolvimento do Subdesenvolvimento", do economista norte-americano Andre Gunder-Frank, uma de suas maiores expressões.

Texto Anterior: 'Presidente agora está mais realista'
Próximo Texto: Covas espera solução rápida para Banespa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.