São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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`O amor entre dois bandidos é melhor'

Djanira da Metralhadora inspirou o filme `Lili Carabina'

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Por assaltos e homicídios, Djanira da Metralhadora foi condenada a mais de 200 anos de prisão -seus advogados reduziram a pena para 36 anos- e está presa desde 1970. Fugiu seis vezes.
Detenta no presídio feminino Talavera Bruce, agora, ela quer voltar para casa. Pediu prisão domiciliar ao juiz da Vara de Execuções Penais, Leomil Pinheiro, e espera ser libertada em breve. A decisão ainda não saiu.
``Quero viver a paz que eu nunca tive", diz Djanira. Ela relembra histórias que diz ter vivido nos tempos do crime.
(FE)

``Matei pela primeira vez quando os assassinos do Jorge Cachaça, o traficante com quem eu vivia, foram na minha casa roubar as armas e drogas dele. Meti tiro neles. Nunca tinha atirado. Os três morreram. Eu tinha dois filhos, tinha que me virar, daí os amigos do Jorge me chamaram para trabalhar com eles.
Eu gostei da vida do crime. Estava com o coração preto, muito ódio dentro de mim, e achei aquilo muito fácil de fazer. Gostava da emoção do perigo. A gente assaltava bancos, firmas, lojas.
Eu entrava sempre na frente, porque quem fica para trás corre mais risco. Eu procurava prender o guarda ou o gerente, puxava conversa, jogava um charme. Eles me achavam bonita e eu ia enganando o cara, até ter chance de abrir a bolsa e puxar a arma.
O nome Djanira foi a polícia que botou. Meu nome é Djanir. Depois acharam que eu tinha uma metralhadora, mas usava uma pistola 9 milímetros adaptada, com cano que dava para tirar, para caber na bolsa. Como eu usava dois pentes de bala, acharam que eu tinha uma metralhadora. Aí chamavam de loura da metralhadora, mulata pistoleira, mudava muito.
Uma vez fomos assaltar um banco e tivemos que trocar tiros com a polícia. Eu consegui sair e vi um camburão do lado de fora. Rendi o guarda e a gente fugiu no camburão da polícia. Outra vez, meu grupo estava sendo perseguido, aí eu joguei o dinheiro pela janela. A polícia parou para pegar o dinheiro e a gente foi embora.
Namorei outro bandido chamado Jorge, o Russo Madureira, e um sargento do Exército que é pai da minha filha. Ele se apaixonou por mim, mesmo sabendo que eu era bandida e tinha uma vida sem futuro. Gostar de alguém que é do crime é inesquecível, é muito gostoso. O amor entre dois bandidos é melhor, é muito forte.
Bandido é abusado. A mulher tem tudo para conseguir o homem que quer. É só fazer um amor bandido com ele também. Quando o Russo começou a me paquerar, dei um fora nele. Ele foi para o motel com outra. Depois me arrependi e fui buscar o Russo no motel, debaixo de pistola. Foi um grande amor. Mas a mulher bandida, ou que tem um amor bandido, sofre mais porque é mais fiel. Quando o homem dela está preso, ela continua acompanhando. Quando ela é presa, o homem esquece que ela está na cadeia.
O dinheiro apurado eu cheirava quase todo. Eu não guardei muito, mas consegui comprar uma casa e um sítio. Não preciso roubar mais.
O crime é um muro, quando você está lá do outro lado é divertido, mas quando nós conhecemos Jesus Cristo como salvador é diferente, você vê que não vale a pena. Nada do que eu fiz valeu a pena. Eu me arrependo e digo para quem está nessa vida que o crime não compensa. O bandido só tem dois caminhos, o cemitério e a cadeia."

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