São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Avião dos EUA é resgatado no Amapá

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO AMAPÁ

Erramos: 13/08/95
Diferentemente do que foi publicado à pág. 1-27 ( Mundo de 23/7), o bombardeiro americano Consolidated B-24 Liberator tem 33,53 metros de envergadura, peso máximo de 32 toneladas e carrega até 5,8 toneladas de bombas. Os dados publicados em 23/7 se referem ao Consolidated B-32 Dominator.
Uma cerimônia vai ser realizada amanhã em Macapá (AP) em homenagem a dez norte-americanos que morreram há 51 anos.
Os dez eram a tripulação de um bombardeiro (avião de bombardeio) da Segunda Guerra Mundial que esteve durante todo esse tempo perdido na selva amazônica. Os restos mortais dos aviadores agora vão voltar aos EUA.
Uma equipe de americanos e brasileiros escavou os destroços do avião durante cerca de duas semanas em uma clareira na mata, na região do rio Caciporé, no interior do Amapá. Os restos do avião ainda estão lá.
Não sobrou muita coisa do bombardeiro de quatro motores B-24H Liberator, do Corpo Aéreo do Exército (o antecessor da atual Força Aérea) dos Estados Unidos.
O choque com a floresta, a explosão e o incêndio fizeram o avião em pedaços.
A tripulação deve ter tido morte instantânea. A equipe de resgate achou milhares de pedaços de ossos carbonizados dos tripulantes. Os maiores têm alguns poucos centímetros.
``A maior parte dos restos foi queimada. Os ossos estão brancos, o que indica que queimaram em temperaturas muito altas", diz William Grant, arqueólogo do Laboratório Central de Identificação do Exército dos EUA e membro da equipe de resgate.
O B-24H era um avião que podia pesar, totalmente carregado, até 50 toneladas. De uma ponta da asa até a outra, ele tinha 41,15 metros.
Era armado com metralhadoras defensivas e podia levar até nove toneladas de bombas.
Esses gigantes foram usados para bombardear a Alemanha nazista durante a guerra.
Muitos foram para a Europa e a África, passando pelo Brasil. Foi o que tentou fazer o B-24 número 42-95064, do 778º Esquadrão do 464º Grupo de Bombardeiros.
O avião tinha saído da base de Waller Field, em Trinidad, no Caribe, com destino a Belém, no Pará, em 11 de abril de 1944.
Saiu de manhã, às 6h09. Tinha combustível para voar por 14 horas. A viagem ao Brasil deveria levar sete horas e meia.
Às 9h52, o piloto pediu por rádio informações sobre o tempo. Uma estação na Guiana Francesa transmitiu o pedido, mas o avião não acusou o recebimento.
Podia estar com dificuldades de comunicação causadas pelo tempo ruim. Ou poderia até ter caído nesse momento.
O motivo exato da queda do B-24 no Amapá é e vai continuar sendo um mistério.
Em maio de 1944, um índio tinha informado as autoridades que sabia o local da queda e que tinha visto corpos em torno do avião, mas ele desapareceu quando pediram que trouxesse alguma prova do que dizia.
Só na década de 90 que o B-24 voltou a ser achado, por garimpeiros que localizam e calculam o valor de minerais no rio Caciporé.
A equipe americana já conhecia o nome dos dez tripulantes antes mesmo de chegar na clareira.
Foram achadas todas as plaquetas de identificação de metal com seus nomes. Mas eles preferem não divulgá-los antes de as famílias serem informadas do resgate e de identificarem os cadáveres.
O fato de os ossos estarem carbonizados indica que vai ser impossível extrair deles o DNA (material genético), que poderia ajudar a identificar cada um dos tripulantes do bombardeiro.
O único material que ainda permite uma identificação individual são os cerca de 70 dentes encontrados, através da comparação com os registros dentários dos aviadores.
Isso cria uma situação curiosa. Se as famílias quiserem fazer o enterro individual de um deles, só poderão enterrar os dentes que forem positivamente identificados.
Os ossos terão obrigatoriamente de fazer parte de uma sepultura coletiva, pois não há como dizer a quem pertencem.
Por que todo o trabalho, então? ``Os soldados americanos se orgulham de que nunca abandonamos nossos companheiros caídos", diz o capitão do Exército dos EUA Mario Garcia, chefe da equipe de 12 americanos que recuperou os restos dos tripulantes.
``É algo que está incorporado à filosofia dos militares. É uma experiência tocante e pessoalmente satisfatória. Quando você é um soldado, sabe que isso poderia acontecer com você."

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