São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 1995
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A mulher na promoção

HELCIO EMERICH

O negócio da promoção de vendas nos EUA está ganhando contornos cada vez mais femininos. Entre os principais executivos de anunciantes e agências especializadas, há uma mulher para cada dez homens.
Em determinadas funções, como a de planejamento, a proporção já é de quatro mulheres para cada dez homens.
Essa crescente ``infiltração" do sexo feminino na atividade promocional, que ocorre também em outras áreas do marketing (propaganda, vendas etc) deveria ser motivo de euforia para as mulheres americanas, mas não é o que acontece.
O motivo da insatisfação teve origem em uma pesquisa concluída no final do ano passado pela Gallup & Robinson, um instituto com sede em Princeton, NJ.
Foram ouvidos 4.000 profissionais (36% do sexo feminino) situados nos oito principais cargos dentro dos organogramas típicos das agências ou dos departamentos de promoção dos anunciantes.
O estudo revelou diferenças acentuadas entre os salários pagos aos homens e às mulheres.
Na média geral e em funções equivalentes, as mulheres recebiam 28% menos que os seus coleguinhas do sexo masculino. Em alguns cargos, essa defasagem chegava a 40%.
Os porta-vozes do bloco masculino se apressaram em explicar que a desvantagem salarial das mulheres se deve ao fato de a presença feminina na área promocional ser um fenômeno recente.
As executivas são mais jovens e quase sempre executam tarefas de menor responsabilidade do que sugerem os títulos dos seus cargos.
Deram até um nome a isso, ``title inflation" (o título é mais importante que as funções que as mulheres efetivamente desempenham). Para atingir suas metas de carreira, elas concordariam em ganhar menos.
As feministas de plantão não perderam a chance de transformar uma discussão -que poderia ficar restrita ao universo profissional da promoção- numa polêmica federal.
Felice Schwartz, fundadora e militante de um movimento chamado Catalyst, que briga há mais de três décadas por mudanças na situação da mulher americana no trabalho, escreveu um artigo na ``Harvard Business Review" acusando anunciantes e agências de formarem um monolítico sistema que discrimina as mulheres e as penaliza apenas pelo fato de serem mulheres.
O homem, segundo Schwartz, não tem que optar entre a profissão e a família.
A dupla responsabilidade da mulher, no escritório e em casa, faz com que ela entre e saia do mercado de trabalho com maior freqüência, levando-a a perder terreno para o sexo masculino, que se beneficia da continuidade e da experiência profissional acumulada.
Prova disso estaria na lista das 500 maiores empresas publicada anualmente pela revista ``Fortune", onde não se encontra mais do que duas ou três corporações presididas por mulheres.
Felice prega novas obrigações das empresas americanas, como a de receber de volta, em igualdade de condições com os homens já empregados, as mulheres que deixaram o trabalho por dois ou três anos para cuidar dos filhos.

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