São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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Decreto que reconhece a morte dos desaparecidos já está pronto

ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal decidiu reconhecer a morte de ativistas políticos desaparecidos durante o regime militar (1964 a 1985). O texto do decreto presidencial já está pronto e foi submetido ontem aos ministros militares.
O reconhecimento da morte dos desaparecidos é o principal ponto do decreto preparado pelo Ministério da Justiça. O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá assiná-lo até o final da semana.
Ainda devem ser estabelecidas as indenizações para as famílias dos desaparecidos, a formação de uma comissão para localizar seus corpos e o registro em cartório dos documentos, reconhecendo-os como mortos.
Ter a morte dos desaparecidos políticos reconhecida pelo governo era a mais importante reivindicação dos familiares.
A falta de documentos atestando a morte dos desaparecidos dava margem a problemas legais. A mulher de um desaparecido político, por exemplo, estava impedida de se casar novamente por não ter meios de provar a morte do seu ex-marido.

Registros
Esses problemas poderão ser resolvidos com o registro em cartório dos documentos atestando as mortes. O reconhecimento da morte, em tese, também permitirá aos familiares acionar o governo para cobrar indenizações.
O valor da indenização que o governo federal se proporá a pagar ainda não foi estabelecido. Ele poderá variar de acordo com a profissão e idade do ativista político quando foi morto.
A lista dos desaparecidos que serão dados como mortos foi estabelecida a partir de relatórios de ONGs (Organizações Não-Governamentais) e documentos de organismos internacionais. A relação vai constar do decreto.

Tortura
O decreto presidencial vai enfocar estritamente o caso dos desaparecidos políticos.
Ele não diz nada a respeito dos ativistas que sofreram torturas ou sobre aqueles que morreram em circunstâncias suspeitas durante o regime militar, como o jornalista Vladimir Herzog.
O texto do decreto também não abordará a questão das culpas pelas mortes durante os governos militares. O governo federal considera que a anistia política concedida em 1979 já resolveu esse problema.
A legislação sobre a anistia política beneficiou tanto os militantes políticos acusados de atos de terrorismo como os militares envolvidos com atividades de tortura, por exemplo.

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