São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Todos a Brasília

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo jeito, na dúvida sobre o que fazer, a saída agora é lotar caminhão ou ônibus e seguir em protesto até Brasília.
Nem bem os agricultores deixaram a capital e entraram dois novos movimentos, um deles muito interessado no dos próprios agricultores.
``Sem-terra invadem Brasília para apressar reforma agrária" foi a manchete da Record. São dezenas de ônibus, para ``pedir que as terras dos agricultores que devem ao Banco do Brasil sejam doadas à reforma".
Exposta assim, como fez a Globo, a idéia é escandalosa e alimenta a revolta ruralista. Quanto mais que, segundo a Jovem Pan, ``o Banco do Brasil já estuda utilizar as terras para fazer a reforma agrária".
O escândalo diminui, porém, na cobertura de SBT e Record, para os quais as terras doadas seriam aquelas dos ``grandes", ou as dos ``caloteiros".
Pressionado à direita e agora à esquerda, às portas de seus palácios, o governo gostou da tática e armou o seu próprio movimento, nada polêmico.
É a Caravana da Paz, como foi batizada, muito semelhante à Marcha sobre Brasília, dos agricultores, ou à Caravana da Solidariedade, da campanha de Lula, ou à Coluna Prestes.
Desta vez os veículos saíram do mesmo Rio Grande do Sul dos agricultores para, segundo o diretor do DNER, ``despertar a atenção de todos, no sentido de que possamos perder o título de campeões de acidentes".
A caravana serve para dar publicidade aos planos para o setor. No caso, um movimento que se repete como farsa.

Viagem sentimental
No que a Jovem Pan tratou como ``viagem sentimental", o presidente esteve ontem em Goiás Velho, no dia da chegada dos sem-terra a Brasília.
Vem de lá o passado militar. O bisavô, governador há um século, foi brigadeiro e deixou como descendentes o avô do presidente, um marechal, e um parente distante, general.
Parente ainda mais distante, um lavrador surgiu, segundo o SBT, para reclamar apoio:
- Ele é aposentado, ganha R$ 100 por mês, paga R$ 60 de aluguel e pediu ajuda ao primo para comprar uma casa.
A resposta, na Globo:
- Não tenho, mas ele pode se inscrever, porque o ministro José Serra está lançando um programa de casas populares.

Texto Anterior: Dirigente do PC do B é encontrado morto em largo no interior da Bahia
Próximo Texto: Prefeito de Goiânia é acusado por petistas de desvio de verbas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.