São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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`Custo Brasil' afeta a rentabilidade

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

A análise da rentabilidade das 300 maiores, que a cada ano a Folha vem divulgando, confirma que o ano recém findo foi de recuperação dos resultados, tendência essa que já havia sido observada em 1993.
Da série analisada, efetivamente 1994 foi o melhor dos últimos anos, sendo que 1991 e 1992 foram desastrosos para as sociedades anônimas, particularmente 1991.
É digno de menção que, em 1994, a rentabilidade foi basicamente conseguida no segundo semestre, e com maior ênfase nos últimos três meses do ano, que sabidamente se caracterizaram por forte acréscimo na demanda agregada.
Foi nesse período que, em maior intensidade, se fizeram sentir os efeitos do Plano Real sobre a economia, quer pela injeção de cerca de R$ 15 bilhões no consumo -fruto da extinção do imposto inflacionário-, quer pela volta das vendas financiadas em maior escala e prazos, como também pela estabilidade dos preços, particularmente dos produtos componentes da cesta básica e de bens duráveis.
Esse aquecimento da demanda entrou por 1995 em maior ou menor escala, variando em função da dependência do crédito de cada setor, perdurando até maio. Isso nos faz crer que, caso os resultados dessas mesmas 300 companhias fossem apuradas para o período julho de 1994 a julho de 1995, essa rentabilidade seria mais elevada.
Os resultados de 1995, como um todo, vão ficar na dependência do comportamento da economia nesse segundo semestre e da dimensão do desaquecimento que iremos observar nos próximos meses.
Até agora, o que podemos constatar é que a queda na demanda não pode ser generalizada para todos os setores e a indústria automobilística, no caso, não pode ser tomada como referencial para todos os demais setores.
Comentando, ainda, os resultados de 1994 mereceriam destaques as rentabilidades dos setores de alimentação, comércio, eletroeletrônica, química, têxtil e vestuário, com a rentabilidade das dez maiores desses setores bem superior a média geral de 4,6%.
Chama também atenção a baixa rentabilidade das dez maiores empresas, todas estatais, a exceção da privatizada CSN (Companhia Siderúrgica Nacional).
Como muito bem vem sendo focalizado, a rentabilidade das estatais realmente deixa a desejar.
Se eliminamos a Petrobrás (lucro financeiro pela valorização do real) e a CEMIG, os resultados das demais são modestos, mesmo a Vale do Rio Doce, que teve 6,6% de rentabilidade sobre seu patrimônio.
Para finalizar, quando comparamos a rentabilidade das dez maiores companhias brasileiras com as das Fortune 500 por exemplo, vemos que ainda há um grande caminho a percorrer para efetivamente estarmos em condições de atrair capitais.
No ano de 1994 a rentabilidade média dessas companhias americanas foi de 21,11%, enquanto das nossas foi de 3,75%.
É bom lembrar que as empresas americanas carregam seus ativos a custos históricos, subestimando assim o patrimônio líquido e, consequentemente, superestimando o retorno sobre o patrimônio.
Na média, as empresas americanas são mais endividadas que as nossas, porém a custos bem mais baixos, o que as leva a lucros líquidos maiores sobre os mesmos lucros operacionais. Como também não esquecer que 1994 foi um excelente ano para as empresas cíclicas como foi o caso da automobilística.
Ainda assim, as diferenças são gritantes. Em que medida o custo Brasil estará afetando esses resultados?

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