São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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Passagem do cinema mudo para o sonoro está no `M' de Fritz Lang

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Poucos filmes expressam a passagem do mudo para o sonoro tão bem quanto "M, o Vampiro de Dusseldorf" (1931). Pode-se resumir a história como a de um "serial killer" (Peter Lorre) especialista em crianças.
Mas Fritz Lang está longe dos "serial killers" do cinema americano atual. Ele consegue fixar um personagem, mostrar seu modo de ação, a dor pelo mal que o atinge (a necessidade inexplicável de matar), a maneira como seus atos repercutem socialmente (no mundo "normal" ou no bas-fonds).
Ora, tudo isso Lang executa com uma precisão feroz e uma elegância diabólica. Nenhum dos crimes é mostrado. Mas as soluções encontradas para fazer o espectador entender que existiram ilustram para sempre, e melhor do que nunca, a idéia de elipse (que consiste em suprimir um acontecimento, deixando-o subentendido).
O uso da elipse demonstra, no mais, a capacidade narrativa de Lang (típica de diretores que vieram do mudo). O som é outra reminiscência do mudo, com a música assobiada por M -também obsessivamente- funcionando não como fundo, mas como elemento de significação do filme.
"M" é um monumento do cinema pelo que nos ensina sobre a passagem do mudo ao sonoro, a arte de dirigir e de atuar.

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