São Paulo, terça-feira, 25 de julho de 1995
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Disco celebra mistura de sons e músicos

ZECA CAMARGO
DA REDAÇÃO

Perguntado sobre o que seus discos que saem pelo seu selo Luaka Bop têm em comum, David Byrne (ex-Talking Heads) respondeu recentemente: ``O mais fascinante desses artistas é que suas músicas são sempre resultado de alguma mistura".(Só lembrando, foi Byrne que fez alguns brasileiros ``redescobrirem" Tom Zé...)
Se o destino do Karnak de André Abujamra não fosse um merecido sucesso aqui mesmo no Brasil, ele poderia ao menos contar um dia com um reconhecimento internacional via Luaka Bop, uma vez que seu trabalho tiraria 10 nos quesitos para agradar Byrne.
O Karnak é óbviamente fruto de uma mistura. Mas assim como não basta jogar tudo em uma panela para fazer um bom cozido, não basta samplear uns sons exóticos aqui e ali para ter um disco genial.
É inútil perguntar a fórmula para o próprio Abujamra. O máximo de explicação que ele consegue dar é que, ao visitar o templo de Karnak na cidade de Luxor (Egito), ele sentiu uma coisa esquisita. ``Sabe quando você tem a impressão de que já viveu em um lugar? Pois é, eu tive isso lá", diz André.
Dependendo do seu nível de associação com o exoterismo, dá até para acreditar nisso. Mas o fato é que, muitos samples e sons depois, André chegou a esse CD.
Inspirado, segundo ele, pelas edições de ``grooves" de rappers que ``mesmo cheias de engrenagens não soavam eletrônicas", André resolveu arriscar.
Depois, com a ajuda de um computador Macintosh, ele juntou tudo, com um resultado surpreendentemente ``quente".
Foi assim que Abujamra reuniu figuras tão distantes como Lulu Santos, Maurício Pereira (ex-parceiro nos Mulheres Negras), Tom Zé, Marisa Orth, seu filho José (com menos de um ano de idade) e até Rolando Boldrin.
``Meu pai era amigo dele e quando eu era criança me lembro do Boldrin cantando na minha casa", explica André, que sempre quis gravar com ele.
Juntando esses nomes, uma banda mais ou menos fixa e mais dezenas de colaboradores (musicais ou não), Abujamra acertou.
``Antes, no Mulheres, eram dois músicos de verdade e um monte sem ser de verdade em volta. Agora, acho que a proporção é exatamente inversa", diz André.
Estatísticas à parte, ``Karnak" deu certo.
Se, como André diz na primeira música do álbum, alma não tem cor, pelo menos trilha sonora ela já tem.
(ZC)

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