São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Novos videoclipes perseguem a 'linguagem da brasilidade '

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

O videoclipe nacional sempre foi considerado uma espécie de piada. A começar pelo volume de produção: quando a MTV entrou no Brasil, cinco anos atrás, seu repertório de clipe brasileiros era ínfimo: 12 apenas.
Hoje, são perto de 140, segundo o André Vaisman, 29, diretor de programação e produção da MTV. A proporção entre clipes brasileiros e estrangeiros na programação da MTV, em geral, "fica em torno dos 40% de nacionais para 60%, segundo Vaisman.
Um dos indícios claros do crescimento da produção do videoclipe no Brasil é que a MTV faz este ano, a primeira premiação oficial de videoclipes brasileiros. São 30 clipes, selecionados de um total de 128 produzidos entre junho de 94 e maio de 95, que concorrem às categorias Videoclipe do Ano, Rock, MPB, Pop, Rap, Artista/Banda Revelação, Fotografia, Demo Clipe, Edição e Direção.
Se a coisa de fato cresceu em números, em termos de linguagem e produção, os videomakers brasileiros estão começando a sair da fase, digamos primitiva.
O videomaker Kiko Araujo, 30, diretor de "Bê a Bá", dos Raimundos (concorrentes na categoria Videoclipe do Ano e Rock), acha que "de um ano para cá, mais ou menos, tenho visto clipes mais legais. Antes era um horror, eram todos feitos dentro daquele esquema: filma a banda de todos os ângulos possíveis, pica tudo, joga para o ar e cola ao acaso. Isso era o clipe. Agora, está se tornando mais profissional."
Pelo jeito, a profissionalização nem depende tanto assim de verbas. Ainda não se chegou -e muito provavelmente nunca vai se chegar- a extremos como o de Michael Jackson, cujo clipe "Scream" custou US$ 10 milhões, mas está se investindo mais na produção.
Como tudo no Brasil, há de tudo. A produtora Conspiração, responsável por um dos campeões de indicação no VMA, "Segue o Seco", de Marisa Monte, por exemplo, gastou US$ 65 mil para fazer o clipe. Já a produtora Santo Entretenimento diz que recebeu R$ 4.500 do selo Banguela para fazer "Bê a Bá", mas "isso foi uma ajuda de custo. O clipe custou muito mais", segundo Kiko Araujo, sócio da produtora.
Cláudio Torres, 32, um dos diretores de "Segue o Seco", acha que está se criando um estilo de clipe brasileiro. "Por estar se dominando mais a técnica, você começa a servir a música com mais precisão. E, ao servir melhor a música brasileira, que tem uma tradição muito forte e muito própria, está começando a se achar um estilo brasileiro."
Não é a toa que começa a se falar em um "jeito brasileiro" de fazer clipe. Afinal, a se tomar como termômetro os indicados ao VMA Brasil, a aposta maior é em música e imagens da realidade brasileira. Entre os indicados melhor clipe, não há nenhuma canção que não dialogue com a MPB.
Pelo menos dois dos concorrentes na categoria Rock, trazem ligações com temas brasileiros. O clipe do Virna Lisi é uma versão de "Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo", de Monsueto. Já os Raimundos contam uma história em uma paisagem nordestina.
Se já existe esse "jeitinho" brasileiro aplicado ao videoclipe, é outra história. "Primeiro precisa aprender a fazer, para poder fazer diferente", diz Araujo.

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