São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 1995
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Motta quer neutralizar dirigentes das 'teles'

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, pretende eliminar o poder dos presidentes colocados por políticos nas ``teles" (subsidiárias da Telebrás nos Estados) com a criação de sete conselhos regionais de administração.
Esses conselhos vão coordenar o Paste (Programa de Ampliação e Recuperação do Sistema de Telecomunicações e da Empresa de Correios e Telégrafos), que será implantado no segundo semestre.
O Paste vai estabelecer os projetos que serão desenvolvidos pelas ``teles" nos próximos quatro anos. Os valores a serem investidos e as prioridades de cada uma das ``teles" serão fixados pelo Ministério das Comunicações.
Segundo o projeto do ministério, os presidentes das estatais ficarão como ``rainhas da Inglaterra" -sem poder, com função meramente decorativa. Isso evitaria o uso político das ``teles".
Motta avalia que o poder e a ação dos políticos no Sistema Telebrás e nas demais áreas técnicas do governo só vai acabar com a alteração da legislação eleitoral.
Sem fidelidade partidária, o governo fica refém dos partidos aliados. Os políticos não se sentem responsáveis pelo governo. Negociam o seu apoio em troca do atendimento de interesses políticos.
O ministro afirma que pretendia nomear técnicos para as presidências e diretorias das ``teles", mas teve de ceder à pressão dos partidos governistas. Desde o governo José Sarney os cargos das ``teles" vêm sendo loteados entre partidos.
Consciente de que não poderia suportar a pressão dos partidos (PFL, PMDB, PSDB, PTB, PP, PL e PPR), Motta propôs inicialmente um sistema que mesclava critérios técnicos e políticos. Os parlamentares indicariam técnicos da própria empresa.
Os partidos teriam influência política nas empresas estaduais, mas a administração ficaria a cargo de funcionários de carreira. Isso facilitaria o controle da Telebrás sobre cada uma das ``teles".
Mas Motta perdeu o controle da situação durante a negociação com os partidos para a aprovação das emendas constitucionais que quebram o monopólios nas áreas de telecomunicações e petróleo.
Os parlamentares impuseram nomes de pessoas estranhas ao sistema Telebrás.
Entre os afilhados estavam políticos sem mandato, dirigentes partidários e parentes de governadores e ex-governadores.
As ``teles" são consideradas pelos políticos como verdadeiras máquinas de fazer votos. A instalação de um ``orelhão" rende votos numa favela inteira. Um posto telefônico garante votos em uma comunidade rural.
Nos últimos anos, surgiu uma nova arma eleitoral: o telefone celular. Os políticos que indicam diretores das ``teles" conseguem a liberação de linhas para amigos.
A Telpe (PE) colocou a venda 4.700 telefones celulares. Mas deixou uma ``reserva técnica", de 5.500 telefones, para distribuir (vendidos) a deputados, prefeitos, juízes e vereadores.

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