São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 1995
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Brasil rejeita pressão dos EUA para abrir economia

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro não está disposto a aceitar a pressão norte-americana para acelerar o ritmo de abertura de sua economia.
É essa a avaliação que a diplomacia brasileira faz a respeito do andamento das negociações para a criação, a partir de 2005, da chamada Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
A idéia da Alca foi lançada na Cúpula das Américas, realizada em dezembro nos EUA, e envolve todos os 34 países americanos, excluída apenas Cuba. De lá para cá, no entanto, o governo norte-americano tenta impor um ritmo que o Itamaraty recusa.
``Estamos de acordo em que a integração das Américas se faça em 10 anos, mas achamos que, no período de negociação, não podemos andar em um ritmo que determine abertura prematura de nossa economia", disse ontem à Folha o chanceler Luiz Felipe Lampreia.
Acordos de livre comércio, como é o caso da Alca, implicam inevitavelmente em que cada país participante abra sua economia para os demais parceiros.
O governo brasileiro sabe disso e até concorda. Mas quer um andamento mais comedido da abertura, até porque acha que já andou rápido demais e, portanto, não pode dar passos adicionais, pelo menos no período de 10 anos de negociações até o lançamento da Alca.
Há outro ponto sério de divergência entre os governos: os EUA insistem no que, no jargão diplomático, se chama de ``Gatt plus".
Traduzindo: a Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) estabeleceu regras não apenas para o comércio de bens mas também para as áreas de serviços e propriedade intelectual.
O governo brasileiro está, por isso, disposto a manter os compromissos assumidos, mas não a ir além do Gatt (o ``Gatt plus" desejado pelos norte-americanos nessas duas áreas, que envolvem, por exemplo, o setor financeiro e a legislação sobre patentes).
Mais: os EUA, assim como os demais países desenvolvidos, insistem na chamada cláusula social, ou seja, no condicionamento de acordos comerciais a uma legislação trabalhista mais rígida nos países em desenvolvimento.
``Não estamos dispostos a ir além da Rodada Uruguai em cláusulas trabalhistas e nas áreas de serviços e propriedade intelectual", diz Lampreia.
Segundo o chanceler, as divergências têm sido expostas franca e publicamente e acredita que os norte-americanos levam ``em plena consideração" o ponto de vista brasileiro.

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