São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 1995
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Organização mafiosa tem sede no bairro

DIMITRI FRIEDMAN
DO ``LE MONDE"

Hoje é Sabá. Dia de oração para os raros judeus ortodoxos de Little Odessa, dia de passeio para os demais. Nas lojas, inscrições em cirílico e hebraico.
Little Odessa é um bairro tradicional de imigrantes no Brooklyn. O nome é o mesmo que o do porto no mar Negro, numa alusão ao ambiente cosmopolita da cidade, onde, no início do século, um terço da população era de judeus.
O bairro está carregado de história. Ouve-se sotaques do Báltico e da Ásia Central. Aqui vivem 50 mil cidadãos da ex-União Soviética.
Andar pelos 15 quarteirões da avenida Brighton Beach, num sábado à tarde, é mergulhar no coração da terra iídiche agnóstica, popular, calorosa. As lojas repletas de fregueses, como se esses temessem a falta de mercadoria.
Durante o passeio é obrigatório passar por Riegelman Boardwalk, pulmão atlântico de Little Odessa. As praias acolhem no verão um milhão de nova-iorquinos.
Durante a semana os idosos são maioria nessa região à beira-mar. Mas a última leva de imigrantes se tornou o ponto de partida da conquista do país pelas gangues.
A ``organizatsyia" é uma organização mafiosa do bairro, com ramificações em vários países.
É dirigida por Marat Balagula, nascido em Odessa e diplomado em Economia. Enriqueceu na ex-URSS graças à proteção de Brejnev.
Emigrou em 1977. A partir de 1980, sua ascensão é inseparável de Little Odessa. Lança-se no negócio do contrabando. Em 1986, depois do assassinato de seu ``padrinho", ele se torna o ``rei" do bairro.
Domina a rede de prostituição, de receptação de jóias roubadas, frauda o fisco e importa heroína.
Balagula foi preso no aeroporto de Frankfurt (Alemanha), extraditado e julgado nos EUA. A partir daí cresce a mitologia sobre ele.
Nem só do aspecto negativo vive o bairro. Brighton Beach se estruturou nas últimas duas décadas e rejuvenesceu graças aos russos.
No final da avenida Brighton Beach se encontra a pérola de Little Odessa: o Brighton Beach Bath & Racket Club. A instituição com mais de 80 anos acompanhou todos os atos de far-niente do bairro.
É ali que as pessoas vinham escutar as grandes orquestras de Lionel Hampton, Tommy Dorsey, Benny Goodman ou grupos pop. Hoje fechado, o clube, que chegou a ter mais de 30 mil sócios, corre o risco de ser demolido.

Tradução de Lise Aron

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