São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pinochet ainda é eminência parda no país

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você não ouvir falar em Augusto Pinochet, com amor ou com ódio, na sua estada no Chile, é porque você desembarcou em um país errado e não no Chile.
O general Augusto Pinochet Ugarte é um divisor de águas na história chilena. Transformou-se até no neologismo ``pinochetazo", de uso universal, para designar um golpe de Estado violento.
Foi Pinochet quem comandou uma operação dessa natureza, a 11 de setembro de 1973. Cercou com suas tropas o Palácio de la Moneda, sede do governo, na qual se suicidou o presidente constitucional, o socialista Salvador Allende.
Pinochet ficou 16 anos no poder conduzindo uma política contraditória em termos: liberal na economia e extremamente dura, fechada, no plano político-institucional.
Deixou um rastro de mortes e desaparecimentos que até hoje faz estragos na vida política chilena, mesmo tendo já dois outros presidentes, depois dele, ocupado o Palácio de la Moneda.
Pinochet é ainda o comandante do Exército chileno, graças a uma reforma constitucional que ele costurou à sua imagem e semelhança.
Como comandante, opôs-se à prisão, decretada pela Justiça, do general Manuel Contreras, chefe da Dina, a polícia política do regime militar, o maior responsável pelas truculências do período.
Com isso, criou uma crise política ainda em andamento.
No plano econômico, os dois presidentes civis que sucederam Pinochet seguiram a política adotada pelo governo militar.
Tanto Patrício Aylwin como Eduardo Frei, ambos democratas-cristãos, mantiveram o apego a um dogma da época militar: o controle das contas públicas.
É explicável: o Chile foi o primeiro dos países sul-americanos a colocar sob controle a inflação, o que sempre se traduz em popularidade para os governantes.
Tanto assim que o próprio Pinochet, apesar do repúdio à violência de sua época, obteve boa votação no plebiscito de 1988 que acabou sendo o marco da queda da ditadura, consolidada no ano seguinte, em eleição presidencial.
O governo militar fez uma série de privatizações, abriu a economia e mudou a Previdência Social, hoje privada na maior parte. O que os presidentes da época democrática mudaram foi o investimento social, ampliando-o.
Com tudo isso, o Chile praticamente sumiu do noticiário internacional nos últimos anos. País estável geralmente não é notícia. Só voltou às manchetes em função do incidente com o general Contreras.
Não quer dizer que o Chile seja um paraíso. Ao contrário: o número de pessoas que vive abaixo da linha de pobreza é enorme. Cerca de um terço da população.
Mas, entre a superinflação de períodos anteriores, a violência institucional da época militar e a plena democracia de agora, com estabilidade mantida, a comparação é claramente favorável.

Texto Anterior: Museu tem acervo de US$ 40 milhões
Próximo Texto: Chillán mescla neve e água quente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.