São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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Religiosos atuaram em Chiapas

FERNANDO MOLICA

Em São Paulo
De acordo com pesquisadores mexicanos, a Igreja Católica teve uma participação fundamental na organização de indígenas do Estado de Chiapas (sul do México) que hoje formam a base da organização guerrilheira Exército Zapatista de Libertação Nacional.
Eles, porém, negam qualquer participação da igreja na guerrilha, iniciada em janeiro de 1994. O nome do grupo é uma referência a Emiliano Zapata, líder da revolução ocorrida no México no início do século.
"Para a igreja, a guerrilha é uma opção ligada à morte, não à vida", afirmou o historiador Ramón del Llano Ibáñez, 43, da Universidade de Queretaro, no México.
Ibáñez apresentará hoje uma pesquisa sobre a guerrilha durante a conferência da Cehila, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
O historiador afirmou que a igreja, ao longo dos anos 70 e 80, apoiou movimentos de invasão (ou "recuperação") de terras em regiões de Chiapas.
Segundo ele, a repressão do Exército e da polícia a essas invasões acabou estimulando os trabalhadores rurais a buscarem outras formas de luta.
Ainda de acordo com Ibáñez, a partir de 82 sobreviventes de grupos guerrilheiros que atuaram na década de 70 começaram a reorganizar suas atividades a partir de Chiapas.
Ao contrário do que ocorrera na década anterior, esses guerrilheiros encontraram, segundo ele, apoio entre um razoável número de indígenas.
Ibáñez diz que isso ocorreu principal na diocese de San Cristóban de las Casas.
Ligado à Teologia da Libertação, o bispo de San Cristóban, d. Samuel Ruíz, começara, nos anos 70, a estimular a organização de indígenas em torno da luta pela terra.
Os indígenas são cerca de 80% da população local.
A Teologia da Libertação enfatiza a necessidade de transformações sociais.
Aída Hernandez Castillo, do Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia Social de San Cristóban, diz que Chiapas não foi atingido pela reforma agrária feita na revolução mexicana.
A concentração de terras favoreceu o crescimento das reivindicações dos trabalhadores rurais de Chiapas, diz.
Professor da Universidade de Quintana Roo, no México, o padre e historiador Armando Lampe afirma que não foi a Teologia da Libertação que inspirou o movimento zapatista, mas o contrário: a guerrilha é que serviu de reflexão para os teólogos da libertação.

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