São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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Taxa sobre cheque pode ser permanente

MARTA SALOMON; WILLIAM FRANÇA; EMANUEL NERI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo quer que a CMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira) seja permanente, ao contrário do imposto do cheque (IPMF), que teve caráter provisório e foi extinto em dezembro do ano passado.
A CMF deverá ser de 0,25% do valor de saques de contas correntes e aplicações e financeiras.
Durante a reunião da noite de quarta-feira no Palácio do Planalto, a nova versão do IPMF perdeu também a característica de uma fonte de financiamento "emergencial" para a saúde.
A proposta defendida pelo ministro Adib Jatene (Saúde) previa a cobrança da contribuição por um período máximo de dois anos.
A proposta chegou a ser formalizada no Congresso pelo senador Antônio Carlos Valadares (PP-SE).
"A área econômica argumentou que seria inconveniente criar um recurso provisório", contou Jatene, ontem.
"Esse foi um dos obstáculos levantados contra a contribuição", disse. A objeção foi feita, na reunião, pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Jatene calcula que a nova contribuição poderá render até R$ 6 bilhões por ano. Esse valor corresponde ao aumento de despesas na área da saúde. No segundo semestre do ano passado, o IPMF conseguiu arrecadar R$ 3 bilhões.
Outra imposição feita pela área econômica do governo para concordar com o novo tributo foi evitar tornar obrigatória, na Constituição, a aplicação dos recursos obtidos pela CMF na saúde.

Sem vinculação
``Qualquer que seja a solução, não haverá vinculação", afirmou ontem o porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral.
A opção acertada com o presidente Fernando Henrique Cardoso foi vincular os recursos da CMF à saúde apenas na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que é reformulada a cada ano.
``Isso agora é detalhe", relevou Jatene. "O problema político já está resolvido; agora só há problemas técnicos." E insistiu: ``Seguramente, os recursos virão para a saúde". Nada impede, porém, que, no futuro, os recursos da CMF sejam usados em outra área definida pelo Orçamento.
Até a reunião de ontem, os ministros da área econômica resistiam ao tributo sobre movimentações bancárias.
O ministro do Planejamento, José Serra, encomendou a assessores uma alternativa à volta do IPMF, mas não obteve resposta.
Segundo o porta-voz do Planalto, o governo também descartou a possibilidade de financiar a saúde com um possível aumento da arrecadação de impostos obtido com a reforma tributária, que será apresentada ao Congresso.
"Apesar de a equipe econômica não gostar desse tipo de tributo, foi a melhor saída", relatou Sérgio Amaral.

FHC
Antes de dar por encerrada uma disputa de três meses no governo pela volta do IPMF, Jatene teve o cuidado de checar com o presidente Fernando Henrique Cardoso o resultado da negociação.
``Presidente, posso dizer que a contribuição vai ser pleiteada pelo governo ao Congresso e vai ser vinculada à saúde?", conferiu o ministro. Jatene diz que FHC concordou.
``Meus argumentos eram sólidos e minha argumentação foi convincente", resumiu o ministro da Saúde, evitando falar em derrotados ou vitoriosos no episódio.
Depois de convencer seus colegas de ministério sobre as vantagens do novo tributo, Jatene tenta agora convencer o contribuinte.
"A grande massa da população, que vai se beneficiar com a medida, não costuma ter conta bancária, e para quem vai contribuir, esta alíquota não tem importância", afirmou.
No Peru, FHC disse que vai criar condições para que os recursos arrecadados sejam usados principalmente na saúde. Segundo ele, a CMF, se aprovada, só poderá entrar em vigor em 96.

Colaboraram WILLIAM FRANÇA, da Sucursal de Brasília, e EMANUEL NERI, enviado especial a Lima

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