São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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Coletânea traz o melhor da Jovem Guarda

RENATO KRAMER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Sony Music está lançando no mercado dez CDs, com doze faixas cada, contendo algumas jóias raras dos anos 60: "O melhor da Jovem Guarda". E se não contém exatamente "o melhor", pelo menos consegue reunir boa parte das músicas e dos cantores mais significativos do "momento".
Digo "momento", mas poderia dizer "movimento" -embora os puristas insistam em negar a importância desta espécie de estilo musical que veio a se chamar "Jovem Guarda.
"Jovem Guarda" na verdade era apenas o nome de um programa de auditório que a TV Record lançou em agosto de 1965. Até então, a emissora transmitia jogos de futebol nas tardes de domingo. Com o cancelamento dessas transmissões, e com um público jovem carente de programação, resolveu-se lançar um programa musical ao vivo, a ser comandado pelo novato cantor Roberto Carlos e pela já famosa cantora Celly Campelo. Esta, por motivos pessoais, e até por não botar muita fé no projeto -segundo "mexericos da Candinha" (colunista de TV de então), acabou não aceitando participar, ficando assim tudo nas mãos do estreante Roberto.
Trinta anos depois, os praticamente três anos de programa no ar são revividos nos CDs da Sony Music. É claro que muita gente boa e importante ficou de fora (veja lista ao lado). Assim como músicas "básicas", que são a "cara" da Jovem Guarda (como o "Pare o casamento" de Wanderléa), também não estão presentes. Mas temos muito com o que nos deliciar. O velho e doce "Calhambeque" do Roberto está lá. A "Ternura" de Wanderléa o "Tijolinho" do Bobby Di Carlo. "Festa de Arromba" do Erasmo, junto a sua "Gatinha manhosa" (a preferida de todas as "serenatas", assim como a "Nossa canção" do Roberto). Está lá também o Robert Livi cantando o seu "Parabéns querida", com seu sotaque inconfundível. O Renato e seus Blue Caps, com suas ingênuas e maravilhosas versões dos Beatles. O "Doce de côco" do Wanderley Cardoso e o "Quem não quer "de seu arqui-rival Jerry Adriani... Tem muita coisa pra relembrar os "bons tempos". Foram realmente bons?
Éramos jovens, e a juventude traz doces lembranças...
Como não lembrar com carinho da "Pobre menina" (aquela que não tem ninguém!) de Leno e Lilian? Como não reler com condescendência absoluta o "Bilhetinho apaixonado" de Katia Cilene (meu Deus!!!)? Impossível! Tanto quanto não lacrimejar ao ouvir a frágil Martinha confessar "Eu te amo mesmo assim". Ah, os "engajados" que me perdoem, mas o coração aperta e aperta forte com tudo isso -e o nó na garganta fica definitivamente "cego" ao ouvirmos o "brasa" dizer com sua voz de veludo: "Não quero ver você triste" assim!
Em meio a esta turma legal, alguns entraram meio de gaiatos nesta coletânea. "Vou tirar você desse lugar", diz o cantor Odair José para a sua então esposa Diana -aquela para quem "Ainda queima a esperança"- mas nem um nem outro participou exatamente da Jovem Guarda. Chegaram um pouquinho depois, assim como Claudia Telles e Marcio Greycck ("Impossível acreditar que perdi você", grita ele, mas perdeu...). Mesmo a cantora Elizabeth (que bradava "Sou louca por você") também já pegou o bonde quase parando. Para Agnaldo Rayol, eu "Quero lhe dizer cantando" que ele já cantava "A praia" muito antes da moçada da calça calhambeque invadir a sua. Já não é o caso do "principezinho" Ronnie Von, que só teve uma experiência nada agradável no programa do "rei": foi vaiado e mal-recebido, pois chegou a ser seu rival como apresentador de um outro musical no mesmo período. Ronnie jogou sua vasta franja para a frente e saiu, meigo e nobre.
"Esta é uma prova de fogo: você vai dizer agora se gosta ou não gosta de mim", desafia a "rainha" Wanderléa. E "Splish, splash" para quem não gostar, rebate o "rei" Roberto.

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