São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 1995
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Feijões e ovelhas alimentam cozinha ``pobre" da região de Abruzos

HAMILTON MELLÃO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Forte e gentil são os epítetos que classificam os habitantes da região de Abruzos, na Itália, povo marcado pela natureza hostil, e que ainda hoje praticam uma agricultura de subsistência, com métodos arcaicos.
Isto se reflete claramente em sua cozinha, que pode ser classificada como técnica e linear, e ao mesmo tempo única e autêntica. Uma cozinha autóctone, da ``nonna", passada de geração a geração e que não admite mudanças.
O almoço é feito no campo, quando as mulheres preparam a ``pasta e fagioli", uma deliciosa combinação de massa com feijões brancos e caldo de carne ou a inusitada polenta com abóbora.
À noite, ao voltar para casa, o repasto é com sardinhas fritas ou um substancial minestrone (sopa com verduras, legumes, feijões e carne de ovelhas.
E é a carne de ovelha o inevitável ingrediente do prato mais famoso da região; o ``macheroni alla chitarra" com ragú de ovelha.
Esta massa é preparada com um curioso aparelho que tem cordas de aço como um violão. Com um rolo de macarrão, nele são prensadas as folhas de massa, que saem por baixo no formato de pequenos talharins. O molho de ovelhas é encorpado com um vigoroso molho de tomates e temperos.
A caça também entra no passadio diário. Lebres, codornas, perdizes, marrecos e patos são caçados para subsistência, sempre acompanhados pelos ingredientes encontrados no momento e rusticamente temperados.
Os pastores tiveram um fator determinante na formação do patrimônio gastronômico da região. É deles o hábito de colocar em quase todos os pratos o ``diavolinno", uma pequena pimenta picante. Dizem que ela entra mais e mais na comida à medida que se sobe a montanha, o espetacular Gran Sasso (grande pedra).
Terra do açafrão, apelidado de ouro vermelho, tempero já usado como pigmento para pintura de quadros, para tingir os tecidos dos nobres e também amarelar os seus pratos.
Por razões econômicas, este condimento não é usado no receituário local, pois toda produção foi sempre exportada para as outras regiões, principalmente para o norte do país. Eles dizem orgulhosamente que a local Basílica de São Bernardo e outros monumentos só foram possíveis graças ao ouro vermelho.
Para beber, um rústico licor Centerba, que, diz a lenda, leva mais de 100 ervas da montanha em sua composição e que atinge 75 graus.
A "cucina povera" desta região italiana vem sendo aclamada agora pelos cronistas gastronômicos italianos como incomparável na sua essência e pureza, com os restaurantes desta região espalhados pelo resto da Itália.
Não é preciso ter uma bola de cristal para saber que a "cucina povera" chegará rapidamente ao resto da Europa e aos EUA, tornando-se a nova moda em substituição à cozinha étnica marroquina. Quem sabe um dia possamos ter aqui também um representante desta sensacional cozinha forte e gentil.

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