São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995 |
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Igreja anuncia punição de freira que defendeu direito ao aborto
FERNANDO MOLICA
Gebara terá que ficar dois anos na Europa estudando teologia. Neste período, ela não poderá manifestar-se publicamente nem conceder entrevistas. Em 1985, o Vaticano também condenou o teólogo e então frei Leonardo Boff a um período de "silêncio obsequioso por discordar das idéias contidas em seu livro "Igreja: Carisma e Poder. A punição a Gebara foi anunciada ontem pela responsável no país pela sua congregação, irmã Pompéa Maria Bernasconi. A congregação de Gebara é a de Nossa Senhora-Cônegas de Santo Agostinho. Segundo Bernasconi, a decisão sobre Gebara foi tomada por duas congregações do Vaticano: a para os Religiosos e a para a Doutrina da Fé. Em carta dirigida a amigos, datada de 30 de maio, Gebara dá a entender que foi ameaçada de expulsão da estrutura da igreja caso não aceitasse a condenação. Na carta, ela afirma ter decidido aceitar "provisoriamente a punição imposta pelo Vaticano. A entrevista que gerou a punição foi publicada em outubro de 1993 pela revista "Veja. Na entrevista, Gebara afirmou que o aborto não era um pecado. Disse que passou a defender a possibilidade do aborto a partir do convívio com mulheres pobres da periferia de Recife. Segundo Bernasconi, no mês seguinte, a Arquidiocese de Olinda e Recife solicitou ao Vaticano a punição da freira. Ainda segundo Bernasconi, no início de 1995, outros bispos brasileiros fizeram um dossiê com escritos de Gebara e o enviaram ao Vaticano, solicitando a abertura de um novo processo. Este processo foi o que gerou a punição. A superiora de Gebara afirmou que ela deverá começar a cumprir a punição em setembro, quando embarcará para a Bélgica. A punição a Gebara motivou um protesto ontem, no último dia da conferência da Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina. Integrantes de um grupo de estudos sobre mulheres subiram ao palco do teatro da Pontifícia Universidade Católica e leram a carta de Gebara. O mesmo grupo preparou um abaixo-assinado em solidariedade a ela. Um dos principais nomes do "feminismo católico, Gebara se alinha com os adeptos da Teologia da Libertação, corrente que procura estabelecer pontes entre a pregação de Jesus Cristo e teorias socialistas. A maioria de seus livros foi publicada pelas Edições Paulinas, uma editora religiosa. Entre os títulos está "As Incômodas Filhas de Eva na Igreja da América Latina. Texto Anterior: Mexicana "rouba" a cena Próximo Texto: Até o ano 2000 Índice |
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