São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Comércio já se financia com tíquete

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Padarias, açougues, bares, pequenos restaurantes e supermercados estão utilizando cada vez mais o factoring de tíquetes de alimentação e refeição para se financiar.
A exemplo do cheque pré-datado, a operação de factoring de tíquetes consiste em vender antecipadamente o bilhete para intermediários que adiantam o dinheiro, com um desconto de 10% a 15%.
Calcula-se que esse mercado paralelo de tíquetes gira cerca US$ 110 milhões por mês. Isso equivale a 30% do mercado formal, que deve movimentar só neste ano US$ 4,5 bilhões.
``Nos últimos meses, aumentou o volume de tíquetes trocados pelos pequenos supermercados junto aos `tiqueteiros', que são os intermediários", diz Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga, que reúne os pequenos supermercados.
Frederico Maia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação, conta que as padarias aumentaram o volume de tíquetes trocados com intermediários para enfrentar os aumentos de custos que não foram repassados para o preço do pão.
Pesquisa realizada em abril com 5.000 padarias da cidade de São Paulo mostra que 24% dos estabelecimentos já se utilizavam de intermediários para antecipar a troca dos tíquetes. ``Esse número hoje é maior", diz Maia.
Também os açougues, bares e pequenos restaurantes começaram se financiar com maior frequência junto aos `tiqueteiros', depois que as vendas despencaram a partir do segundo trimestre deste ano e o governo restringiu as operações de factoring de cheques pré-datados.
``Há dois meses, entregava 10% dos tíquetes a intermediários. Hoje repasso 20%.", diz Valcir Milanelo, dono do açougue Palestra. Essa forma de obter crédito é mais prática do que o cheque especial porque não exige burocracia, explica.
Jarbas Bicalho, secretário-geral do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo, conta que os bares e pequenos restaurantes estão sendo empurrados para esse tipo de financiamento porque seus fornecedores encurtaram os prazos de pagamento.
``Tudo que compramos hoje tem que ser pago à vista e o movimento caiu 40% desde maio."
A própria Assert, que reúne as empresas que emitem os tíquetes, admite que, desde março, cresceu a participação de intermediários na troca antecipada do bilhete.
Mas, desde março, com o desaquecimento da economia e as restrições ao crédito, a fatia de tíquetes na mão dos intermediários voltou a crescer.
Para Manuel de Farias Ramos, presidente do sindicato dos açougues, o tíquete está ocupando o espaço do pré-datado como instrumento de venda e forma de financiamento do varejo de alimentos.
É que os atacadistas que revendem carne para os açougues estão mais cautelosos na aceitação do pré-datado. Resultado: já aceitam até que a fatura dos açougues seja liquidada com tíquetes.
A grande vantagem de antecipar a venda dos tíquetes é que o dinheiro sai imediatamente.
Já as empresas tíquetes demoram, no mínimo, três semanas para pagar os comerciantes. Cobram ainda uma comissão de 4% a 7%.

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