São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Que haja a disputa da vida contra a vida

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o bom técnico Carlos Alberto Silva terá o dia de hoje para se transformar em um superdoutor Freud e recompor a tribo esmeraldina do trauma emocional vivido.
A quarta-feira de cinzas em Porto Alegre foi um fenômeno a-histórico, atemporal, atípico: pertence à enciclopédia sombria das calamidades, ao imprevisível, ao imponderável, ao sobrenatural.
Não foi apenas uma derrota prosaica, um resultado de uma simples partida de futebol. Junto com os cinco gols que tomou, o Palmeiras perdeu um sonho, perdeu a cabeça e está moralmente arrasado.
Os psicanalistas conhecem esse estado de não-vida, o chamado sol negro da melancolia. Carlos Alberto Silva terá que recorrer a uma terapia intensiva, aos prozacs do espírito para reanimar o time.
O palmeirense passou os dias deprimido, com um sabor amargo na garganta e a sensação frustrante de que o destino lhe preparou uma cilada -e contra ele, nem a Parmalat resolve a impotência.
Primeira tarefa: uma dose cavalar de energia positiva. Segunda: se lembrar que desafios desse porte é que provam a dimensão dos homens, é que separam os heróis, os superiores, dos pequenos.
(Um homem de moral não fica no chão, ensina a sábia música popular.)
Por último, recordar que todos esportes são imprevisíveis, mas o futebol talvez seja o mais imprevisível de todos. Ainda agorinha mesmo, o Fluminense mostrou que as divindades da bola operam com uma misteriosa noção do que é justo.
Como a vida é mesmo paradoxal e apaixonante, o infortúnio de Porto Alegre aumentou o interesse pela final do Campeonato Paulista. Corinthians e Palmeiras: dois excelentes elencos, com o melhor -o que é melhor ainda- no ataque.
O Rosebowl, lá na encantadora Califórnia brasileira do bom chope e das belas mulheres, graças a Deus, hospeda as finais mais generosas dos últimos tempos: há promessa de bom futebol e de muita emoção, que é um sentimento humano valioso para o brasileiro.
Tomara que o Palmeiras reaja e supere a crise depressiva e renasça para que se assista a uma bela disputa da vida contra a vida -porque, do lado alvinegro, ela anda numa alegria contagiante.

Até quarta-feira o Danrlei era, para mim, o melhor goleiro do Brasil. Não é mais. Como se fosse membro de uma gang violenta de delinquentes juvenis -e não um jogador de futebol profissional- participou de uma das agressões mais pusilânimes e traiçoeiras da história recente do futebol brasileiro.
As televisões mostraram com clareza que ele 1) agiu premeditadamente e 2) atacou covardemente pelas costas um companheiro de profissão que estava em desvantagem numérica na briga.
Não há lugar no meu time para poltrões como ele. À baixaria vergonhosa instaurada pelo Dinho e pelo Válber, Danrlei acrescentou uma coroa funesta.
A camisa do Grêmio não merece esta desonra. A sociedade brasileira não comporta mais esses episódios torpes.
A minha seleção dos desclassificados já tem goleiro e lateral-direito: Danrlei e Paulo Roberto, aquele que agrediu uma bandeirinha mulher. Não me esqueci.

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