São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Terceiro milênio

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Vamos nos aproximando, pouco a pouco, do fim do século e da entrada no terceiro milênio. Eis aí um convite à reflexão que abre para a humanidade perspectivas de convivência fraterna e pacífica.
O papa João Paulo 2º referia-se à leitura dos sinais dos tempos, ensinando-nos a perceber a ação de Deus na história. Paulo 6º apontou para o dever de promovermos a ``civilização do amor". Em novembro de 1994, João Paulo 2º dedicou uma carta apostólica à preparação do terceiro milênio, oferecendo às comunidades um amplo programa de renovação espiritual e solidariedade. O futuro depende de todos nós.
Há, no entanto, em nossa geração, e especialmente nos jovens, crescente desânimo, marcado por desencantos e frustrações. As forças da paz da ONU parecem impotentes contra o ódio e a violência na Bósnia-Hezergóvina. Em vários países o terrorismo continua martirizando o povo. Por outro lado, a cobiça e o desatino poluem rios, devastam florestas, desgastando sempre mais o planeta, apesar do alerta dos ecologistas.
Para onde vai a humanidade? Não podemos perder a coragem de construir um mundo solidário e de assegurar o progresso sustentável. A fé cristã e a crença de muitos povos nos iluminam sobre o projeto de Deus, que nos criou por amor e nos destina à comunhão plena com Ele e entre nós.
A fim de alcançarmos essa meta no limiar do novo milênio, há três atitudes que todos temos que adquirir.
A primeira é o reconhecimento do direito de viver para toda pessoa desde a concepção até o termo natural de sua existência nesta terra. As campanhas pela cidadania têm contribuído para afirmar os direitos que decorrem da dignidade da pessoa. Multiplicam-se os centros de defesa de direitos humanos, lutando por condições dignas de vida para o povo da rua, os migrantes, os reclusos nas prisões e outros grupos. É preciso, agora, um passo a mais na coerência ética, incluindo nessa mesma defesa, convicta e firme, a vida da criança no seio materno.
Outra aquisição indispensável é a de aceitarmos, à luz de Deus e da razão, a dignidade de todo homem e toda mulher, sem discriminação de sexo, raça, nação, condição social ou ideologia. Até hoje acontecem atos hediondos de violência, fruto de preconceitos inaceitáveis.
A terceira atitude requer um longo aprendizado. É a de convivermos uns com os outros no pluralismo das crenças e culturas. A verdade é uma só e todos temos obrigação de procurá-la. O processo para encontrá-la, no entanto, pode ser longo e penoso. Daí a necessidade da educação ao pleno respeito a cada pessoa, aguardando e facilitando a descoberta da verdade, pelo intercâmbio de valores e pelo apreço mútuo. Aos cristãos pertence testemunhar a alegria de sua fé, oferecendo a todos a mensagem de paz e amor e a promessa de vida plena que Jesus Cristo nos revela.
A aproximação do terceiro milênio exerce sobre nós atração misteriosa. Será que vai significar a mera continuidade de uma história de egoísmo, guerras, esquecimento e ofensa a Deus? Ou poderá ser para a humanidade o início de uma nova e desejada fase em que iremos aprendendo, cada dia mais, a lição da fraternidade e da confiança filial em Deus? É grande a esperança.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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