São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Tropa brasileira enfrentará fome em Angola

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Os 240 militares brasileiros que embarcam para Angola no dia 20 -como integrantes da missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas)- vão enfrentar inimigos que podem se tornar mais fortes do que o melhor dos exércitos profissionais: doenças contagiosas, população local faminta, adolescentes armados com metralhadoras e fuzis atuando como guerrilheiros fanáticos.
O acordo pelo fim da guerra em Angola foi assinado no final de 94 pelo MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), que detém o poder, e pelo grupo guerrilheiro Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola). A ONU deve enviar 10 mil homens para ajudar a manter a paz.
O major Américo Valdetaro, comandante da Companhia de Engenharia da Força de Paz, que reúne homens do Exército e da Marinha, disse que, embora a missão seja de paz, a orientação da ONU é para que os brasileiros reajam em caso de um ataque surpresa.
O observador brasileiro enviado a Angola para reconhecimento, Odilon Mazzini, 32, informou que há grande quantidade de armas clandestinas nas mãos da população civil.
Cada soldado brasileiro foi orientado a só sair em grupos de oito ou dez, deixar sempre informações sobre seu destino e nunca retirar a identificação das Nações Unidas.
``Tanto no Exército angolano como entre os grupos ligados à guerrilha há garotos de 14, 15 anos, andando com metralhadoras e fuzis. Às vezes, ouvia as rajadas nas ruas", disse Mazzini.
Os brasileiros temem que grupos fanáticos rompam a paz, ou que a população, faminta, avance sobre os alimentos estocados pela tropa. Há ainda o perigo de doenças contagiosas.
Os 200 homens da Companhia de Engenharia da Força de Paz vão reconstruir a estrada entre a capital angolana, Luanda, e a cidade de Uíge, 300 km a nordeste. A ligação entre as duas cidades é feita apenas por avião.
A estrada foi praticamente destruída após quase 20 anos de guerra civil em Angola. Há minas enterradas em diversos trechos. Um grupo da companhia foi treinado especialmente para destruí-las.
Segundo a ONU, em Angola, país de 10 milhões de habitantes, há mais de 15 milhões de minas.
Uma mina é localizada por um detector, se for metálica, ou pela sondagem do solo com um bastão especial, se for uma mina de material plástico. Depois é destruída com uma carga de dinamite.
Os 40 homens do destacamento de saúde, que também faz parte da missão, vão montar postos avançados nas cidades de Luena e Uambo para atendimento da população e das tropas da ONU.
O grupo, com média de 29 anos, está treinando há seis meses no Batalhão de Engenharia de Santa Cruz, zona oeste do Rio, às vezes até dez horas por dia. O Congresso Nacional liberou R$ 33 milhões para compra de equipamentos e treinamento da Companhia de Engenharia da Força de Paz e de um destacamento de saúde, criados em março deste ano por decreto presidencial.
Segundo o Itamaraty, a ONU reembolsa o governo brasileiro em 20% das despesas e paga as diárias dos militares brasileiros. O governo brasileiro aceitou enviar tropas para a missão por seus interesses econômicos e culturais em Angola, país de língua portuguesa.

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